Daniel Agis
s políticos que consideram o fast fashion como inimigo abordam o tema com uma alta dose de desconhecimento sobre a evolução do sector e com uma ponta de populismo, pois é politicamente correcto pensar-se assim. Fast fashion é uma forma de estruturar, produzir e vender artigos de moda dentro duma faixa de preços acessível para as massas.
A produção massiva concentra-se em algumas grandes cadeias internacionais, e são europeias as mais inovadoras e económicamente revelantes. A forma como estas cadeias democratizaram o acesso à moda com uma qualidade normalizada, foi positivo para o consumidor e ampliou os horizontes de todo o sector.
A indústria têxtil foi a base da revolução industrial já no Reino Unido no século XIX e de muitos outros países e zonas geográficas. Com a globalização, a abertura dos mercados a partir da década de 90, a têxtil foi a base da revolução industrial da China, é hoje a base de países como por exemplo o Bangladesh, e o será amanhã da Africa, pois já começamos a ter exemplos como o da Etiopia.
A partir de 2000, a deslocalização massiva acabou por ser inevitável, considerando o rumo que tomava o mercado, ainda que uma parte da indústria resista na Europa e bem, respondendo a necessidades mais especificas, técnicas ou de time to market.
Felizmente a comunicação na rede tornou o mundo mais transparente (apesar de gerar também fakes), e os grandes grupos tiveram que tornar-se cada vez mais transparentes e rigorosos na forma como abordam o offshoring, pois más praticas ambientais e sociais são uma ameaça à reputação das marcas.
Por exemplo, a eventualidade de se descobrirem crianças a trabalharem numa fábrica que produza para uma Zara na Asia, seria noticia nos ‘media’ de todo o mundo: os erros hoje são mediaticamente castigados, e por isso o controlo dos subcontratados nos aspetos do trabalho, passaram hoje a ser muito elevados, assim como também as preocupações ambientais, procurando-se refúgio na certificação de organismos internacionais (como a IndustriAll ou a Greenpeace).
Os salários praticados por um fabricante partner de um grupo como H&M ou outra empresa europeia semelhante no Bangladesh é baixo se comparado com o padrão europeu, mas normalmente está acima da média do praticado em muitos outros sectores desse país. Algo semelhante ao que aconteceu, na devida proporção, na Europa (Portugal, países do leste) ou na Turquia.
Centrando-nos no Terceiro Mundo, é uma realidade que a têxtil é a base da vida de milhões de pessoas, e não há forma melhor de partilhar a nossa riqueza que transferindo actividade económica e emprego, pois entretanto a indústria europeia teve que se reconverter e reinventar para ultrapassar os obstáculos originados pela abertura do mercado. A Europa também mudou, e não há volta atrás possível.
Paradoxalmente, o fast fashion foi o sector mais visado mediaticamente (pelo consumidor) e por isso teve que adaptar-se para proteger a própria reputação. É a indústria do Terceiro Mundo que não trabalha para marcas reputadas e para os grupos fast fashion, e que normalmente distribui os seus produtos exclusivamente num âmbito local/regional, aquela que, livre de amarras (regras do seu proprio Estado), recorre aos padrões sociais e ecológicos que não aceitamos no Ocidente.