O elefante americano
T35 Setembro 18

Nicolau Santos

Jornalista e Administrador da Agência Lusa
E

stamos já no terceiro ano de mandato e o mínimo que se pode dizer é que há um elefante na loja de porcelanas.  Com efeito, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem-se assumido, desde que chegou à Casa Branca, como o grande criador de sarilhos políticos e económicos a nível mundial. Não tinha sido assim no passado, onde os presidentes ora republicanos ora democratas nunca romperam o statu quo nem as alianças estratégicas em que assentou o mundo saído da II Guerra Mundial. Mas com Trump tudo mudou.

No plano político, o presidente norte-americano pauta-se por desfazer tudo o que o seu antecessor alcançou e por tomar decisões que abrem novos focos de tensão. Ao colocar em causa o acordo internacional de 2015 assinado entre várias potências (a União Europeia, a Rússia e a China) com o Irão para travar o acesso de Teerão a armas nucleares, Trump cria um problema onde ele não existia. Ao defender que todos os países devem cortar a compra de petróleo iraniano até 4 de Novembro, sob pena de sofrerem sanções por parte dos EUA, Trump está a arranjar mais problemas. Ao decidir abrir a embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém, Trump lançou gasolina no conflito israelo-palestiniano. Ao afirmar que «a União Europeia é um inimigo [dos Estados Unidos] devido ao que nos fazem no comércio», Trump confirmou que, para ele, a desagregação da União Europeia e o fim do euro serão bem-vindos.

No plano económico, o presidente dos Estados Unidos parece pautar-se por duas orientações: recentrar a economia norte-americana dentro das suas fronteiras, travando a globalização e o comércio mundial; e rasgar, suspender ou modificar todos os tratados internacionais que considere que são desfavoráveis a Washington. Ameaçou empresas norte-americanas que estavam a investir no estrangeiro com aumento de impostos se não investissem antes em território norte-americano; ameaçou a China, o Canadá e a Europa com a subida de taxas aduaneiras sobre o alumínio e o aço, para depois recuar no caso da União Europeia; mantém, contudo, o braço de ferro com Pequim, numa escalada perigosa, sem levar em conta que a China é o maior detentor de dívida pública norte-americana; suspendeu o tratado da NAFTA, com o Canadá e o México. E ao autorizar a duplicação das taxas às importações de aço e alumínio da Turquia, está a arrasar a moeda e a bolsa turcas, arrastando na queda os mercados europeus.

Perante tudo isto, o que se pode esperar a curto/médio prazo é: 1) abrandamento do comércio planetário que, segundo a presidente do FMI, Christine Lagarde, vai retirar meio ponto ao crescimento da economia mundial; 2) várias categorias de exportações para os Estados Unidos vão tornar-se mais caras; 3) a subida das taxas de juro nos Estados Unidos e em Inglaterra vai-se propagar à União Europeia; 4) a inflação mundial tem tendência a crescer;  5) os investidores vão retrair-se; 6) e esperemos que não regresse a crise das dívidas soberanas na Europa.

Por outras palavras, os últimos meses de 2018 e os doze de 2019 vão ser marcados por grande instabilidade, abrandamento económico, guerras comerciais, retracção da procura, subida do preço do dinheiro e aumento das tensões políticas a nível mundial. Depois de tempos de bonança, os empresários portugueses vão ser de novo postos à prova.

Partilhar