O desenho 3D já faz parte do processo industrial têxtil
T61 - Fevereiro 2021

Hugo Miranda

Diretor de Inovação da Adalberto Têxteis
O

uso de ferramentas digitais 3D na moda já não se questiona, porque já não é futuro: faz parte do presente das mais variadas marcas no mundo inteiro. À semelhança do que aconteceu com o surgimento dos moldes digitais ou dos desenhos 2D criados em Photoshop, o desenho 3D começa já a ser uma parte integrante do processo criativo e produtivo de muitas empresas. Será uma tecnologia que, em breve, fará parte do dia-a-dia do processo industrial de qualquer empresa têxtil.

O que se questiona agora é se se está a formar profissionais em número suficiente para fazer face às necessidades, uma vez que a situação pandémica atual veio, sem dúvida, acelerar muito a utilização e o desenvolvimento da tecnologia 3D na área da moda. Em Portugal e mesmo no mundo, não são muitos os 3D modelers de elevada qualidade que conseguimos encontrar.

Neste momento, a procura é imensa, e países como o Bangladesh, a China e até a Turquia estão a recrutar serviços a profissionais portugueses, para a criação de modelos 3D, conteúdos para websites ou catálogos, digitalização de malhas/tecidos, e até formação. Isto está a acontecer porque as grandes marcas internacionais já estão a exigir modelos digitais 3D às empresas têxteis.

Um caso prático de utilização do 3D na indústria é a Adalberto, que o tem usado tanto no seu processo industrial, assim como uma ferramenta de marketing junto dos seus clientes. No último ano, através do departamento de inovação AD-TECH, a Adalberto apresentou um cheirinho dos vários projetos de desenvolvimento nesta área.

Em termos industriais, o 3D pode ser utilizado em diversas fases, oferecendo imensas vantagens, nomeadamente redução de timelines, redução de custos, mas também em termos de sustentabilidade, visto que há menos desperdício de matérias-primas, recursos naturais e energéticos, e também redução da pegada carbónica no processo logístico.

Na relação com os clientes, já se fazem aprovações através dos modelos digitais em 3D. Aqui podem ser testados fittings, moldes, pormenores, design, etc. Podem testar-se prints, cores, acessórios e até combinações de modelos. Através da digitalização das propriedades físicas e das texturas das malhas/tecidos, conseguem-se criar renderizações (processo que transforma o objeto 3D em imagens realistas) muito similares ao real, podendo assim ser usadas como fotos ou vídeos em sites online de venda, catálogos, ou até mesmo para fazer apresentação de coleções de forma interativa, por exemplo, em catwalks digitais ou MUPIs com ecrã touch.

Na última Modtissimo, a Adalberto apresentou uma coleção inteiramente feita em 3D, cujo primeiro protótipo físico foi também a peça final, sem necessidade da produção de múltiplas amostras. Usando a tecnologia 3D, além das imagens realistas dos modelos em 3D, também foram apresentados vídeos dos designs em 3D, animações em realidade aumentada e QR code com link, onde o cliente pôde interagir com os modelos na página do departamento de inovação AD-TECH.

Esta é uma maneira de partilhar com os clientes outras formas de usar este tipo de tecnologias e serviços, exemplos que promovem a ativação de uma marca e que ajudam a apresentar de forma mais interativa e clara o valor acrescentado das suas peças.

A Adalberto está neste momento a par com os melhores do mundo. Tem vindo a desenvolver muitos sistemas proprietários e workflows, de forma a estar no topo também no que diz respeito à tecnologia 3D Digital Fashion, e prova disso foi, por exemplo e a mais recente, ter sido convidada a apresentar alguns modelos 3D em colaboração com a portuguesa 3D modeler Susana Meireles na revista internacional “Style in Progress”, ao lado de grandes marcas como Moncler, Hugo Boss ou Napapijri.

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