Elsa Dionísio
ara além das grandes cidades com centros comerciais e department stores, existe uma salutar realidade multi-marca nas pequenas cidades. É quase em jeito de provocação que exploro o tema. Provocação para comigo e para os meus pares da capital, ou melhor, das capitais. Se por um lado Lisboa é sinónimo de casa, por outro lado (vivi e) trabalhei com retalho de moda, mais de uma década, em várias das capitais mais dinâmicas no consumo de bens de moda como Dubai, Doha, cidade do Kuwait, Riad, Nova York.
Excetuando a última, tanto em Lisboa como nas capitais do Médio Oriente as grifes (do luxo às segundas linhas de autor) estão disponíveis e consomem-se em centros comerciais. Ajuda a tal o clima e a adjacente comodidade de estacionamento que os centros comerciais proporcionam face ao comércio de rua. Acresce ainda que os centros comerciais têm como loja-âncora um department store e um supermercado, capitalizando e elevando a visita a uma experiência no mínimo “três em um”.
Tive, contudo, nas semanas mais recentes e chuvosas deste outono, a oportunidade de visitar a trabalho cidades mais pequenas no norte de Portugal (Viana, Braga, Vila Real, Porto e Aveiro) nas quais me deparei com uma salutar realidade: o dinamismo do comércio de rua. E aqui quero destacar que nas cidades destes distritos, as lojas de moda representam tanto marcas nacionais (Lion of Porches, Decenio, Lanidor, Parfois, Vila Nova, etc.) como internacionais (Mango, Benetton, Intimissimi, etc.) assim como cadeias nacionais multi-marca (Forte Store, etc.). Quando referimos que a revenda para distribuição, vulgo multi-marca, está em contração, eis que determinadas geografias nos mostram o inverso.
Do comércio de moda, com ponto de venda na rua, em localidades mais pequenas, eis algumas características distintivas: os clientes são conhecidos, portanto fidelizados; os colaboradores são maioritariamente mais maduros, pois ser lojista ou responsável de loja é tido como uma profissão a tempo inteiro, com descanso semanal fixo pelo menos ao Domingo, e horários também mais restritos permitindo ambos os fatores o concilio com a vida familiar; os clientes procuram determinadas marcas e determinados estilos (do mais clássico, ao mais arrojado) e sabem que os vão encontrar nestas lojas pois os colaboradores conhecem bem o seu cliente e cria-se esta relação de proximidade, de quase intimidade, na qual o cliente tem o colaborador como um “fiel depositário” dos seus gostos, das suas modas, daquilo que lhe “fica bem, porque já lá vou há anos e elas sabem bem do que eu gosto e guardam-me sempre as peças que sabem que eu gosto, no meu tamanho”.
Sendo da capital, humildemente vivenciei, entranhei e aplaudo esta realidade de proximidade ao cliente. Se é o busílis da questão que o retalho de moda enfrenta em geral, seguramente não o é. Se é uma reflexão e uma lição de descentramento para as metrópoles acerca de outras “experiências de cliente” na “jornada do cliente em loja”, seguramente o é.