José Manuel Lopes Cordeiro
Museu da Indústria Têxtil da Bacia do Ave, situado em Calendário, Vila Nova de Famalicão, acabou de lançar uma nova colecção monográfica, intitulada Arqueologia Industrial, que dá continuidade à revista homónima publicada pelo Museu.
A Arqueologia Industrial foi fundada em 1987 como publicação periódica. Em 2019 passou ao formato de livro, constituindo uma colecção monográfica nas áreas da arqueologia, património e museologia industrial. Para além do Museu da Indústria Têxtil da Bacia do Ave/Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, a sua edição é também da responsabilidade da APPI – Associação Portuguesa para o Património Industrial, representante em Portugal do TICCIH – The International Committee for the Conservation of the Industrial Heritage, o organismo mundial para o património industrial, consultor do ICOMOS para a Lista do Património da Humanidade. A nova publicação é editada pelas Edições Humus, que a colocará à venda nas principais livrarias do país, podendo, no entanto, ser também adquirida no Museu.
Este primeiro volume da colecção Arqueologia Industrial apresenta quatro capítulos, dois deles de particular interesse para o conhecimento da história da indústria têxtil na Bacia do Ave.
O primeiro destes capítulos, intitulado “A fábrica de lanifícios do barão da Trovisqueira”, da autoria de Mário Pastor, investigador do Pólo do Porto da Universidade Católica, sublinha que o arranque industrial da produção têxtil na Bacia do Ave foi um fenómeno que começou a afirmar‐se a partir dos meados do século XIX, sempre intimamente relacionado com o retorno de antigos emigrantes portugueses no Brasil.
A primeira fábrica têxtil montada com aproveitamento hidráulico no Rio Ave propriamente dito foi construída pelo barão de Trovisqueira. Tratava‐se de uma fábrica de lanifícios instalada em Riba de Ave, em meados da década de 1870, hoje pouco conhecida. Inserida posteriormente na Sampaio, Ferreira & Cª Lda., a fábrica do barão de Trovisqueira foi a pedra de toque do arranque da indústria têxtil sobre o Ave.
O segundo capítulo, “Casas e Fábricas no Vale do Ave. As formas do paternalismo industrial na Fábrica do Ferro em Fafe”, da autoria de Luísa Ribeiro e Eliseu Gonçalves, investigadores da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, foca outro aspecto pouco estudado na história têxtil da Bacia do Ave, a criação de assentamentos ex‐novo com tipos inéditos de habitação e equipamentos sociais ancorados na fábrica.
O caso aqui abordado corresponde à Companhia de Fiação e Tecidos de Fafe, fundada em 1887, nas margens do rio Ferro. Os autores analisam a estrutura urbana formada a partir da fábrica, consubstanciada na habitação, identificando possíveis lógicas de relação entre os edifícios industriais, os bairros, os equipamentos e a paisagem. Concluem, defendendo a necessidade de preservação no território e, em rede, deste conjunto heterogéneo de sinais capazes de se constituírem memória coletiva do património industrial da região, no seu amplo sentido.