No caminho da fábrica tradicinal para a fábrica inteligente
T70 - Fevereiro 2022

Isabel Furtado

Vice-Presidente da ATP
T

odos nós, que há anos trilhamos este árduo caminho, sabemos que o ambiente competitivo da indústria exige adaptação constante e resposta ultra rápida às tendências da procura de mercado. Agilidade e flexibilidade permitem reduzir o time-to-market  e conferir às empresas uma vantagem competitiva absoluta. Nada de novidade até aqui. 

Mas também sabemos que as fabricas onde trabalhamos, são na sua maioria, fábricas de organização tradicional, com a cadeia de abastecimento, produção, manutenção e programação das actividades conduzidas de forma mais ou menos isolada, e sem uma interligação permanente e ágil. Cada uma destas áreas, mesmo que automatizadas, estão desconectadas das restantes, requerendo frequente intervenção humana para resolver transições entre as várias fases de operação. Acresce que a falta de conectividade entre as máquinas e entre os diversos processos de negócio têm como consequência que os operadores humanos estão recorrentemente analisar conjuntos de dados díspares e relatórios para identificar problemas e potenciais áreas para ganhos de eficiência. 

A forma mais expedita de visualizar o conceito de Fábrica Inteligente é em contraste com o ambiente de produção tradicional fragmentado, mesmo que moderno nos equipamentos produtivos e automatizado.  A Fábrica Inteligente é aquela em que é eliminada a fragmentação entre os sistemas e componentes produtivos e assim é minimizado o desperdício de tempo, energia e recursos materiais. O propósito central da Fábrica Inteligente é integrar todas as diferentes actividades que contribuem para o output da unidade produtiva, combinando a cadeia de abastecimento, manutenção e programação da fábrica numa única entidade, em contraste com a Fábrica Tradicional, na qual todas estas actividades são conduzidas de forma isolada.  

Uma das características chave da Fábrica Inteligente assenta na capacidade de partilha dos dados recolhidos pelos equipamentos a todos os níveis da rede digital que liga a unidade produtiva. Mas não basta recolher dados – até porque a indústria gere uma grande quantidade de informação de diferente origem – é necessário a gestão destes dados, de forma eficaz e em tempo útil.

Através da recolha e tratamento analítico é possível prever problemas potenciais antes que ameacem o normal funcionamento da fábrica. Aprendizagem automática e algoritmos permitem calendarizar intervenções de manutenção minimizando o tempo de interrupção das máquinas e maximizar a sua utilização. 

A inovação na Fábrica Inteligente é uma área de rápido progresso. A promessa é trazer ao negócio maior flexibilidade na fabricação, customização à escala industrial, melhoria na qualidade e maior produtividade. Este salto para o futuro da fabricação permite responder aos desafios de produzir bens mais individualizados com menor lead-time to Market e maior qualidade. 

Mas este deve ser um caminho trilhado com uma perspectiva de longo prazo. Mais que navegar em modas tecnológicas, a complexidade da Fábrica Inteligente tem que ser gerida com sentido pragmático do real valor aportado ao negócio. E acima de tudo, ter a noção de que a “transformação digital” da Fabrica Tradicional na Inteligente não é uma revolução, mas evolução.

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