Mário Jorge Machado: o “orgulho da celebração”
T75 - setembro 22

Mário Jorge Machado

Presidente da ATP
C

hegamos à 75ª edição do T Jornal no momento em que celebramos 60 edições de Modtissimo e 30 anos da Associação Selectiva Moda (ASM), iniciativas de sucesso da ATP. É, por isso, um momento de celebração, de orgulho e satisfação pelo trabalho realizado por nós e por muitos, em prol do sucesso do sector Têxtil e Vestuário português, apostando na sua internacionalização, na diversificação de clientes e mercados, ultrapassando obstáculos, vencendo desafios, superando fragilidades.

Ao longo destes 30 anos, e no âmbito de vários projetos e iniciativas, a ATP e a ASM ajudaram mais de mil empresas portuguesas a internacionalizar as suas atividades, produtos e serviços, cobrindo toda a fileira, desde as matérias primas (fios, tecidos, malhas, acessórios) a produtos acabados, como o vestuário (homem, mulher, criança, desporto), os têxteis-lar e decoração, os têxteis técnicos e funcionais, onde pudemos mostrar a qualidade, o serviço, a inovação, a I&D a diferenciação, o design, a criatividade e a evolução que tem vindo a ser feita pelo sector ao longo destes 30 anos, valorizando o “made in Portugal”, hoje referência reconhecida e distinta, significando também competência, rapidez de resposta, flexibilidade, sustentabilidade,  proximidade, comunhão de valores, compromisso, cooperação, fatores que resultam do empenho e da dedicação de todos os que colaboram com esta indústria.

Nestas 3 décadas foram realizadas mais de 10 mil participações em feiras internacionais, um pouco por todo o mundo, à semelhança das exportações deste sector que exporta para mais de 190 países e territórios.

Nos últimos 30 anos, apesar de termos sido confrontados com vários desafios a testar a resiliência e a fibra deste sector, vivendo momentos de grande instabilidade que muitos acreditavam ser o fim, as exportações de têxteis e vestuário aumentaram 30%, passando de 4,2 mil milhões de euros (em 1992) para 5,4 mil milhões de euros (em 2021). Embora o vestuário continue a representar 58% do total das exportações do setor, neste período, foram as exportações de matérias-primas têxteis, incluindo fios, tecidos e malhas, as que registaram maior aumento (+137%), um sinal da diversificação de estratégias por parte das empresas ao nível do seu mix de oferta no internacional.

A pandemia resultante da COVID 19 trouxe-nos a diversificação de estratégias ao nível da promoção e uma valorização do digital também na internacionalização. No entanto, engane-se quem julgue que as feiras perderam importância. Prova disso têm sido as últimas edições do MODTISSIMO com números crescentes de expositores e visitantes que obrigaram inclusive à mudança de local para a sua realização.

As feiras continuam a ser um palco primordial de promoção e angariação de negócios que devem fazer parte da estratégia de internacionalização das empresas do sector. Uma oportunidade única para se mostrar o que de melhor se faz em Portugal, incluindo ao nível da sustentabilidade e circularidade, um dos vetores estratégicos que temos vindo a apostar e que coloca Portugal como destino primordial na oferta de serviços e produtos inovadores, sustentáveis, circulares e responsáveis, sendo essencial que empresas, associações e entidades governamentais continuem a apostar nesta ferramenta.

Fomos enfrentando os diferentes desafios (desde a globalização, à liberalização, à hegemonia de certos players, à crise económica e financeira de 2008, ao alargamento da Europa a leste, à COVID-19), sempre acreditando no nosso valor e resiliência. Hoje vivemos mais um momento decisivo para o futuro deste setor em Portugal e na Europa, com nuvens negras a pairar sobre as nossas cabeças. Ainda a lutar contra os efeitos de uma pandemia, estamos a viver uma crise energética sem precedentes, um aumento substancial da inflação com inevitáveis impactos no consumo e na procura, sem esquecer o grande desafio e imposição da transição climática, de uma economia linear para uma economia circular, num momento em que, em Portugal, e de forma surpreendente, ainda vivemos um quadro de indefinição face aos incentivos comunitários que deveriam estar a ajudar as empresas a enfrentar todas estas dificuldades e reptos, mas que não estão, conferindo ainda maior incerteza e complexidade a este cenário.

Conforme sabemos, o que não nos destrói torna-nos mais fortes e com certeza iremos encontrar o caminho certo para mais uma vez dar a volta a estas difíceis circunstâncias, sabendo que embora o caminho se faça de forma mais rápida individualmente, apenas em cooperação esse caminho se torna robusto e sustentável. Pelo que, apelamos a todos um reforço da cooperação com clientes, fornecedores, colaboradores, entidades de apoio, mas também com os pares, reforçando o valor e a integração deste cluster, no contexto nacional e internacional.

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