MADE IN E CREATIVITY IN
T75 - Setembro 2022

Paulo Melo

Anterior Presidente da ATP
Q

uando me pediram um texto para o T, pensei “escrever sobre o quê ?”, já que sobre o sector tudo se tem escrito. Entretanto, a ler um jornal vi um título que me mereceu bastante atenção – “MADE IN / CREATIVITY IN” – e achei interessante.

Não tenho dúvidas do enorme e consistente trabalho desenvolvido ao longo dos últimos anos pelas empresas, empresários, associações, em especial pela ATP, pela Selectiva Moda, Portugal Fashion, nas suas atividades nas principais feiras internacionais, além dos vários congressos que realizámos no nosso país, bastante marcantes, senão fundamentais, para transmitir a todos os players internacionais a importância e relevância do sector e que em Portugal se produz bem, com muita qualidade, com confiança, em empresas bem organizadas, com uma alta flexibilidade, com elevado conhecimento técnico e com um nível tecnológico de equipamentos industriais do que melhor existe.

Foi um trabalho que demorou mas valeu a pena. A referência MADE IN PORTUGAL é hoje um caso de sucesso, que foi conquistado e que está a ser consolidado cada ano que passa.

Se em relação ao MADE IN, o trabalho foi realizado com sucesso, quanto ao CREATIVITY IN, na minha opinião, o assunto é bem diferente e aqui ainda temos muito trabalho pela frente. É diferente e exige das empresas um foco no produto, na diferenciação, na criatividade, no design, que faz com que cada empresa seja mais especializada no seu segmento de mercado, nos seus produtos e nas vendas. É um caminho que não se esgota em uma ou dez coleções, mas que se vai construindo com consistência até se tornar uma referência internacional para os seus potenciais clientes.

É um caminho que se constrói não só com máquinas, mas com conhecimento humano, técnico, investigação e com pessoas altamente qualificadas, introduzidas num mundo muitas vezes subjetivo, mas que, com o seu know how, sabem ler e antecipar tendências, usando a sua criatividade, imaginação, arte, vertendo tudo isso para produtos com elevado grau de sofisticação e diferenciação. É uma outra forma de investimento.

Condições que só ao alcance de empresas com um sistema de organização e especialização muito grande e com uma estratégia altamente definida e especializada. É um caminho muito próprio, podendo não ser para todos, mas é fundamental que as empresas trabalhem nesse sentido, pois só assim, com mais massa crítica, é que podemos ser reconhecidos desta forma, pelo nosso CREATIVITY IN. Hoje em dia, existem ainda muitas poucas empresas a serem reconhecidas nesta dimensão.

Se conseguirmos juntar a força e reconhecimento que o sector têxtil português tem no MADE IN com o CREATIVITY IN, e se conseguirmos manter a nossa atual capacidade industrial, que é a mais importante da Europa Ocidental, não tenho dúvida nenhuma que está ao nosso alcance aumentar as exportações em valor e com margens mais robustas. Todos ganhamos com isso.

Esta será a maior consolidação que o têxtil poderá alcançar. Sei que não é um caminho fácil, mas é aquele que melhor resiste a mudanças mais agressivas de mercado, de ciclos económicos, e o que melhor convive com a incerteza e instabilidade em que hoje vivemos. Será este o caminho que melhor nos pode defender e que nos dará maior reconhecimento internacional.

Atingir este reconhecimento é possível, mas pode não ser para todos.

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