Ligação Universidade / Empresa – Nova Geração
T62 - Março-Abril 2021

Rui A. L. Miguel

Presidente do Departamento
de Ciência e Tecnologia
Têxteis da UBI
e Membro do Conselho
Consultivo da ATP
A

s exigências derivadas da abertura dos mercados, do nível de conhecimento dos consumidores e da volatilidade da fileira moda, associadas ao enorme potencial da evolução da ciência e tecnologia, constituem um enorme desafio à competitividade das empresas, só superado com base no conhecimento. Cada vez mais, na área industrial da ITV são necessários quadros técnicos superiores com formações clássicas (licenciatura, mestrado, doutoramento) em química, caso da tinturaria e acabamento, em mecânica, eletrotecnia e eletrónica, caso da manutenção dos equipamentos e instalações, em informática, caso do irreversível percurso da digitalização.

Há, no entanto, dois perfis profissionais, com formação superior, específicos da ITV. O designer de moda (têxtil e vestuário) que associa à capacidade criativa, de interpretação de tendências e de perceção das necessidades dos clientes (B2B e/ou B2C), o conhecimento dos materiais e das potencialidades da tecnologia disponível, com preocupações de sustentabilidade.

O quadro superior (têxtil e vestuário) com conhecimento técnico das matérias primas, dos produtos acabados e em transformação e dos respetivos processos, fluxos das operações de produção e parâmetros de qualidade. O plano de estudos destes cursos de licenciatura e mestrado deve ser eclético e incluir temas de formação complementar como gestão Lean, indústria 4.0, sourcing e cadeia de abastecimento, negócio internacional de moda, sustentabilidade e economia circular, etc. É um perfil profissional para as empresas industriais, mas também para o sourcing de produção e de produtos em empresas comerciais.

A formação destes quadros, com o up-grade de nova geração que responda às exigências atuais, deve envolver de forma organizada a participação das empresas na definição dos planos de estudo e conteúdos programáticos dos cursos, bem como a participação de quadros das empresas na lecionação de alguns módulos ou em seminários.

Será ainda de enquadrar a realização de estágios curtos nas empresas durante o ciclo de formação, bem como a possibilidade da realização de cursos de mestrado, ou outros não conferentes de grau, em colaboração com as empresas visando uma preparação mais assertiva e específica para o mundo do trabalho. Ainda nesta perspetiva, a formação online, concertada com as empresas, poderá ser um contributo muito importante das universidades na formação ao longo da vida dos quadros profissionais da ITV.

As universidades podem e devem multiplicar o que se tem feito no fomento da criação de startups em áreas da fileira da ITV, em centros de incubação e desenvolvimento, no próprio campus ou em parques tecnológicos associados, promovendo o empreendedorismo e o próprio emprego de jovens diplomados. A estratégia deve ser capaz de aliciar consultores sénior, investidores e fundos de investimento e, também, atrair empresas da ITV de modo a serem acionistas qualificados, mesmo que minoritários, permitindo-lhes externalizar áreas de negócio específicas e com conhecimento intenso em ciência e tecnologia.

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