Inovar ou morrer
T29 Fevereiro 2018

Isabel Furtado

Membro da direção da ATP
I

novar ou morrer, assim disse Peter Drucker há mais de 30 anos…

Hoje em dia, mais do que nunca, somos permanentemente recordados da importância vital da inovação para o crescimento económico e para o sucesso das empresas. Inovar está na ordem do dia e é um tema muito presente nas notícias, artigos de opinião, programas de conferências, seminários… a palavra inovar quase se tornou obrigatória nas nossas conversas.

Mas factos são factos, e Portugal não tem tido resultados animadores nesta matéria, apesar dos esforços realizados, e de um ou outro sector mais promissor, como é o caso da indústria têxtil.

De acordo com o European Innovation Scoreboard 2017 da Comissão Europeia, Portugal é considerado um inovador “moderado”, estando apenas à frente do grupo de “modestos”, como a Roménia e Bulgária. Em Portugal, o investimento em I&D em 2016 foi abaixo da média Europeia, sendo mesmo menor que em 2010. Será esta uma das principais causas para o fraco impacto da inovação nas vendas. Continuamos muito aquém do que deveriamos estar. À semelhança de tantos outros temas, afinal a ideia de inovar parece ficar muito pelas palavras e pouco pelos actos.

Mas para investir é preciso saber o que é de facto inovação. Inovar significa criar coisas novas, recombinar as coisas que já existem de uma forma diferente resultando em novos produtos, processos ou serviços, ou na melhoria significativa de alguns dos seus atributos. Parecendo tão simples, porque é tão difícil inovar e manter a capacidade de o fazer? Talvez porque o maior desafio da inovação não é a conceção de ideias em si, mas sim a forma de as gerir e transformá-las em valor percecionado pelos clientes. É fundamental ter ideias, ter sonhos, ter invenções, mas o objectivo final terá que ser sempre torná-las em bens transacionáveis. E aqui reside o nosso maior obstáculo… ou, se quisermos, o nosso maior desafio.

E temos que reconhecer que criatividade não é sinónimo de inovação. Uma organização com pessoas criativas não é necessariamente uma organização inovadora. A inovação tem que ser a consequência de um processo sistemático e organizado com uma estratégia bem definida, monitorizada e, por tal, mensurável. É importante ter a estratégia de inovação alinhada com a estratégia da gestão e do próprio negócio, e determinar como se cria valor para actuais ou potenciais clientes, como é que a empresa capta esse valor e que tipo de inovação se pretende fazer, incremental ou disruptiva.

Sendo a inovação um processo de descoberta baseado no conhecimento, a abordagem da gestão de topo deve ser diferente da tradicional, criando uma organização que aprenda com os erros, que incentive ao desenvolvimento, que permita liberdade de pensamento, motivada por desafios, com espírito crítico e com agilidade para navegar na crescente incerteza.

E se Portugal é um país com escasso retorno no investismento em IDI, a protecção e valorização do conhecimento e da propriedade intelectual estão ainda mais distantes dos padrões típicos de países inovadores. Uma invenção é o alicerce da inovação, sendo por definição uma nova solução e pode ser protegida por patentes. As patentes são o garante que um inventor pode controlar a utilização comercial da invenção, só assim evitando que o esforço de investimento e toda a atividade de IDI não termine facilmente nas mãos da concorrência.

Mas guardemos esta ideia para um futuro artigo…

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