Inovação e Criatividade na atração, recrutamento e fixação de talentos
T72 - Maio 2022

Hélder Rosendo

Business Manager – TMG Textiles, membro do Conselho Consultivo da ATP
N

o momento presente e por razões óbvias não se tem falado de outra coisa que não seja o impacto da crise energética na competitividade sector. Os aumentos incontroláveis da fatura energética, que afetam em maior ou menor escala todas as empresas da fileira, estão cada vez mais a inviabilizar operações e a comprometer fortemente a competitividade das empresas. 

O que é certo é que parece não haver outro tema na agenda, até porque as medidas de apoio disponibilizadas pelo Estado não são de todo eficazes na minimização do impacto negativo desta fatura na competitividade. 

Contudo, da mesma forma que a crise na Ucrânia eclipsou a crise pandémica (pelo menos nos media) esta crise energética está, na minha opinião, a disfarçar um outro problema do sector, que não sendo novo, se tem agravado consideravelmente nos últimos tempos: A escassez de mão de obra qualificada. 

Assunto antigo este da atratividade do sector e das dificuldades de recrutamento. Há três décadas já se falava na necessidade de formar quadros médios para renovar perfis críticos na área da fiação, do debuxo, da tinturaria/acabamento. Esse era o propósito da Escola Tecnológica / AFTEBI, criada em finais dos anos 90 sob tutela do Ministério da Indústria (atual Ministério da Economia), com vista à preparação de quadros intermédios para a indústria e que viria reforçar a oferta nesta área, já proporcionada para outras áreas de especialidade pelo CITEX (agora Modatex) e pelo CENATEX. Mérito e reconhecimento para o trabalho importante de todos estes agentes… mas não chega.   

Passados estes anos diria que o problema subsiste e a dificuldade de contratar quadros intermédios, novos e qualificados, mantem-se. O problema é que neste momento o espetro da dificuldade de contratação se alastra a toda a tipologia de funções de âmbito industrial. As dificuldades de recrutamento são claramente maiores, os candidatos são cada vez menos e na maioria dos casos com perfis mais transversais que os qualificam (ou não) para qualquer sector. 

Isto significa que as nossas empresas passam a ter muito maior responsabilidade na formação on job e passam a competir não apenas entre si, mas com outros sectores industriais, porventura mais atrativos que o têxtil do ponto de vista das diferentes dimensões que podem configurar a proposta do lado da contratação. Nem vale a pena falar na dificuldade de contratação de costureiras, esse perfil único, que em tempos chegou a suscitar uma discussão interessante com a Agência Nacional de Qualificações, nomeadamente sobre a mudança da designação, o que poderia aliviar alguma carga negativa associada mas não diminuiria em nada a especificidade, a minucia e o talento necessários para o bom desempenho da função. 

Dito isto, tendo por base as expectativas dos jovens de hoje, e apontando à necessidade premente de os atrair e fixar nas fileiras do nosso sector, diria que o holofote da inovação e da criatividade se deve orientar rapidamente para as equipas de gestão do capital humano. Estes processos requerem hoje dinâmicas, estratégias criativas e instrumentos inovadores, orientados para fora e para dentro da empresa, que permitam não só, redefinir o chamado “pacote” de remuneração, mas sobretudo, transformar todo o processo de recrutamento, acolhimento, integração e fixação do talento.

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