Indústria Têxtil Europeia numa encruzilhada
T63 - Maio/Junho 2021

Alberto Paccanelli

Presidente da EURATEX - Confederação Europeia do Têxtil e Vestuário
A

Indústria Têxtil e Vestuário europeia enfrenta um desafio duplo. Por um lado, a pandemia do corona vírus atingiu o nosso setor mais do que outros, registando quebras no volume de negócios entre 10% e 20%, tendo no comércio a retalho chegado a ser de -25%. O défice comercial aumentou, particularmente devido à importação massiva de máscaras e produtos relacionados provenientes da China. Por outro lado, a União Europeia iniciou um processo ambicioso de transição verde e digital, que se traduziu numa onda de regulamentação que irá ter grande impacto nas nossas empresas.

Tendo em conta estes dois desafios, a nossa indústria encontra-se numa encruzilhada e é necessário assegurar que esta crise se transforme numa oportunidade e que desenvolvamos um novo modelo de negócio para uma indústria sustentável e competitiva. Segundo a EURATEX, tal modelo de negócio terá de ser suportado por 3 pilares: Transformar a sustentabilidade numa fonte de competitividade global; Investir na digitalização da nossa indústria e assegurar que as pessoas têm as competências certas para a levar a cabo; Criar um mercado global têxtil com regras iguais e cadeias de fornecimento transparentes para todos.

A indústria em si pode fazer muitas coisas, mas as autoridades nacionais e europeias têm de estar igualmente envolvidas. A este respeito, vemos de bom grado a iniciativa da Comissão Europeia de desenvolver uma Estratégia Têxtil Europeia até ao final de 2021. Esta estratégia deverá incluir os seguintes elementos:

– A Europa deverá implementar uma fiscalização de mercado eficaz, evitar concorrência desleal e garantir condições de concorrência equitativas. O continente tem standards sociais e ambientais muito restritivos e deverá proteger a qualidade dos seus produtos. Sabemos muitas vezes que produtos produzidos noutros países não obedecem aos mesmos standards, e urge tomar medidas de ação.

A Europa deverá apoiar a transição para uma indústria mais sustentável e digital através de fundos e programas específicos. De facto, as PME, dadas as suas dimensões e capacidades, não têm poder para inovar os seus produtos e processos a curto prazo. E a Europa deve ter também uma abordagem de teste de mercado ao avançar para a sustentabilidade e economia circular.

A transição verde deve equilibrar cuidadosamente o custo desse processo de transição e os benefícios de longo prazo. As empresas e os cidadãos podem perder rapidamente o interesse se a transição não trouxer nenhum benefício de curto / médio prazo. Assim a Europa deverá ajudar o sistema e institutos de educação e formação a desenvolver conhecimentos abrangentes e de ponta no T&V.

Isto poderá ser conseguido através de iniciativas como o LongLife Learning, Erasmus + e do Pact for Skills. As nossas indústrias têm uma força de trabalho envelhecida e é fundamental assegurar mais formação (reskill/upskill). Mais importante ainda, o setor deve atrair a geração jovem para se renovar e impulsionar a mudança.

A Europa deve ter uma abordagem coerente ao legislar em diferentes áreas. Todas as políticas, desde o Green Deal à estratégia para Produtos Químicos Sustentáveis, da Estratégia Comercial da UE à Estratégia Industrial da UE, devem ser consistentes e não prejudicar a indústria.

Com estas medidas tomadas, estamos confiantes de que a indústria têxtil europeia pode permanecer competitiva a nível mundial, com base na qualidade, design e inovação dos seus produtos e processos.

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