INDITEX: A HISTÓRIA QUE SE REPETE
T42 Abril 19

Paulo Vaz

Diretor Geral da ATP e Editor do T
A

inda é cedo para avaliar o efeito da retração da Inditex junto da indústria têxtil e vestuário portuguesa, embora os números de comércio internacional referentes às vendas para a Espanha em 2018 já nos objetivem o seu impacto.

A quebra de 4% face ao anterior, ou seja, menos 68 milhões de euros de vendas ao mercado espanhol, pode não explicar tudo o que está a acontecer com a Inditex e a sua mudança de política de aprovisionamento, pela qual se busca a margem em fornecedores que estejam capazes competir pelo preço, mas significa quase tudo. Já 2017 tinha fechado com uma quebra de 1% face a 2016, o que indiciava uma tendência que se acentuou no ano transato e que, por certo, vai adensar-se nos próximos tempos.

Também parece certo que esta quebra está aquém daquilo que é o desinvestimento que a Inditex está a fazer junto dos fornecedores nacionais, pois haverá novos e diversos clientes em Espanha que a estão a substituir, obviamente de forma insuficiente, pois a compensação não está a neutralizar a quebra.

Uma conclusão essencial deve ser extraída: o óbvio risco de depender excessivamente de um mercado e de um cliente, acaba, mais cedo ou mais tarde, por ser fatal, especialmente para as empresas que se entregam na sua dependência e não possuem outro argumento no final que não seja o preço. São as pequenas e médias empresas que trabalham em subcontratação pura, sem que pudessem acrescentar grande valor acrescentado ao processo, que estão a sofrer. Essa miríade de empresas, nas quais também assentou durante muitos anos a competitividade do sector, está a sofrer mais do que as demais esta situação, que dificilmente será reversível. Tal como no passado, algumas conseguirão resistir, adaptar-se, encontrar atempadamente outros clientes, reinventar-se e recuperar. Daqui a uns anos, vamos certamente ouvir histórias desta transformação junto das sobreviventes, mas nas restantes ficará apenas o silêncio, tal como já sucedeu quando grandes marcas, como a Esprit, a Levis ou a Next, realizaram a mesma desmobilização, depois de um tempo de absorção e forte dependência, em que a promessa de negócios para a eternidade ia mantendo as relações de risco até este se verificar. Nada disto é novo e nada disto, infelizmente, vai deixar exemplo para futuro, pois é admitir que, tal como a história se está a repetir, ela voltará um dia a registar o mesmo.

À Inditex a indústria têxtil e vestuário portuguesa tem de agradecer o desafio que lhe realizou, em certo momento histórico, para corresponder ao seu modelo de negócio “fast fashion”, obrigando-a a ser reativa, criativa, inovadora, rápida e focada no serviço e no cliente, tornando-se uma das mais modernas e de melhor desempenho à escala global. Foi excelente para ambos, por interesse de ambos, deixará de ser pelas mesmas razões inversas.

Dito isto há que redesenhar novas estratégias e objetivos, aproveitar o “know-how” e a experiência consolidadas, transformar a dificuldade do momento numa oportunidade que aguardar ser aproveitada, de modo que o sucesso prossiga, pois só a busca contínua deste é garantia da sobrevivência.

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