Falemos de nós
T44 - Junho 19

José Cardoso

Membro do Conselho
Fiscal da ATP
N

os últimos tempos as noticias sobre a progressão do sector de retail trazem indicadores e alertas face a mudanças muito profundas que estão a acontecer. As alterações dos hábitos de consumo são hoje uma certeza mas a nossa atenção vai para as diferentes formas como o sector de retalho se está a adaptar. Por um lado para sobreviver e por outro para manter os índices de crescimento que continuam a ter um peso enorme na economia mundial.

No ano passado nos EUA mais 27 mil milhões de m2 de espaços comerciais que ficaram vazios de inquilinos – no ano anterior o número terá sido ainda maior -, mas as vendas dos grandes gigantes de distribuição on-line, teoricamente os grande substitutos, não crescem com uma proporção inversa a esta tendência.

As explicações são inúmeras, desde o espaço de armazenamento nas novas casas se estar a reduzir, associada a uma convergência para o arrendamento que permite uma maior mobilidade e menos compromissos de largo prazo, até à tendência de opção por experiências memoráveis em detrimento de objetos.

E do outro lado do Atlântico chegam-nos outros dois indicadores importantes: Um mostra que no ranking dos 10 maiores retalhistas nos EUA está um operador on-line (e podemos dizer só ou já); o outro prediz que o retalho tradicional terá 80% do mercado em 2020, mesmo sabendo que os grandes operadores apostarão numa distribuição híbrida. Existe uma lenta progressão nesta mudança, que não é tão radical como se pode fazer parecer mas que está a acontecer.

Mas é no meio deste ruído que está a verdadeira questão. Ou seja, saber onde está o público deste show de propostas que se montam globalmente.

Certo que tudo será fruto de receios ou otimismos, das tentativas de bloqueio de novos e velhos conceitos, de estratégias em face de resultados bolsistas e com poucas certezas quanto a sua objectividade a longo prazo, mas não deixa de ser curioso entender para quem está montado todo este grande espaço cénico. E quem, afinal, criará verdadeiras estórias de sucesso.

Destaco neste contexto as observações atentas de certos comentadores que nos alertam para o facto de estarmos a dar demasiada importância ao desenvolvimento das ferramentas de análise em detrimento das emoções e da sensibilidade das pessoas com as quais se pretende comunicar. Criam-se softwares para melhor entender os padrões comportamentais, mas esquecemos como se padronizam as ações não previsíveis que são sempre resultado da plena condição humana.

Tudo isto não deixa de ser um enorme desafio à tentativa de padronizar a inteligência emocional, mas sem conseguirem este repto será que existe um padrão comportamental fiável que sirva como garante dos planos estratégicos que se anunciam?

Aguardemos pelas respostas que ainda não temos, sem nos escondermos nos medos do que nos é desconhecido nem nas ficções que nos trazem potenciais realidades. Que mais não são que expectativas. Os prognósticos escrevem-se em função dos interesses do momento e está ainda longe a conclusão desta revolução que todos sentimos estar a acontecer.

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