Espanha preside Conselho da União Europeia no 2º semestre deste ano, com alguns dossiers relevantes na agenda para o Têxtil
T86 - setembro 23

Ana Dinis

Diretora Executiva da ATP
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o passado mês de julho, a Espanha assumiu a Presidência do Conselho da União Europeia para assumir a liderança em importantes dossiers e políticas comunitárias durante o segundo semestre de 2023, algumas delas com grande relevância para o têxtil e vestuário.

O difícil contexto económico e político, resultante da guerra na Ucrânia e as consequências da inflação no consumo continuarão a influenciar o programa de trabalhos da nova liderança do Conselho e consequentemente a ter impacto na orientação política da União Europeia. No entanto, para o têxtil e vestuário, é crucial que a próxima Presidência espanhola ajude a facilitar a transição climática e digital do setor, além de preservar a competitividade e estabelecer condições equitativas de concorrência no mercado comunitário, bem como garantir que as cadeias de valor e abastecimento permanecem operacionais neste momento tão desafiador ou ainda alavancar importantes dossiers para este sector. 

Um deles é a finalização da ratificação do Acordo UE-Mercosul (abrange Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai e poderá ter um impacto significativo para as exportações comunitárias de têxteis e vestuário, uma vez que alguns destes mercados tem elevadas barreiras tarifárias e não tarifárias na importação deste tipo de produtos). 

A guerra na Ucrânia e a tensão subsequente que ela causou nas cadeias de fornecimento demonstraram a importância de diversificar o portfólio de mercados, bem como de fornecedores de matérias-primas críticas como, por exemplo, a energia.

Ainda temos todos muito presente a crise energética que vivemos em 2022 (e sobretudo o rastro que deixou): preços de gás natural que quintuplicaram, graves distorções no mercado (comunitário e global) e impactos muito diferenciados ao longo da cadeia de fornecimento e entre concorrentes (comunitários e internacionais). A transição para uma economia circular e de baixo carbono depende da disponibilidade de energia verde a preços competitivos. A política industrial da UE (e a Presidência espanhola) deve considerar estas prioridades, sem nunca esquecer que o grande objetivo é promover a competitividade e resiliência das empresas comunitárias.

A sustentabilidade e circularidade do setor, assim como a transição digital foram consideradas prioridades da UE para os Têxteis e Vestuário. No entanto, para se manterem competitivas as empresas terão de realizar elevados investimentos. Estimam-se que as necessidades de investimento para alcançar a circularidade no setor têxtil até 2030 possam variar de 5 a 7 bilhões de euros, um desafio que o setor fortemente caracterizado por PME não pode superar sozinho. É fundamental que a Comissão Europeia apoie financeiramente estes investimentos e a Presidência espanhola terá com certeza um papel importante a desempenhar neste objetivo.

No âmbito da transição digital que o sector se encontra a viver, é importante garantir que os dados são recolhidos, tratados, guardados e partilhados de forma segura. A cyber segurança deverá igualmente ser uma prioridade desta Presidência, importante para se conseguir ter mercado único digital, resiliente e competitivo.

Outro dossier relevante é a implementação do Regulamento do Ecodesign para produtos sustentáveis o qual estabelece um conjunto de requisitos para melhorar a sustentabilidade ambiental e circularidade dos produtos, entre os quais os têxteis. No entanto, será essencial garantir que os produtos que são vendidos do mercado comunitário, independentemente de onde tenham sido produzidos, cumpram os mesmos requisitos. Para isso será crucial que os Estados-Membros implementem um regime eficaz de fiscalização do mercado para proteger os cidadãos e assegurar condições equitativas de concorrência entre as empresas comunitárias e as estrangeiras.

As pessoas e as competências são um pilar essencial ao sucesso deste setor. Conseguir um mercado de trabalho altamente competitivo é cada vez mais desafiador, sobretudo quando temos uma média de idades que supera os 50 anos, um gap na oferta e procura de formação, dificuldades de contratação de recursos humanos e estamos a viver uma transição climática e digital. Investir na qualificação, na requalificação e na atratividade do setor são prioridades para ontem que a Presidência espanhola não pode deixar para segundo plano.

Certamente que Espanha não estará sozinha e Portugal, assim como os restantes Estados membros, terão de fazer o seu papel em defesa dos interesses da sua indústria e da sua economia.

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