Carla Joana Silva
ivemos tempos conturbados, de grandes incertezas e dúvidas, mas também repletos de oportunidades para repensar o que fazemos e para encontrar formas diferentes para o fazer.
É tempo de utilizar a inteligência coletiva para redesenhar o nosso modo de trabalhar, promovendo a circularidade dos materiais e processos e usando a natureza como fonte de inspiração.
A Europa, e Portugal em particular, definiram uma série de objetivos e metas a atingir em 2050, nomeadamente o comprometimento com a redução das suas emissões de gases com efeito de estufa, por forma a que o balanço entre as emissões e as remoções da atmosfera seja nulo em 2050. Ora, para poder alcançar este objetivo ambicioso da neutralidade carbónica, é essencial promover alterações à nossa economia atual linear, baseada em recursos fósseis, e, portanto, dependente do fornecimento limitado de recursos não renováveis do planeta, como o petróleo e o carvão.
É tempo para a Bioeconomia, uma economia baseada na produção de recursos biológicos renováveis e na sua conversão em produtos de valor acrescentado. É tempo para a indústria têxtil se renovar, aproveitando todas as oportunidades existentes para a introdução de recursos biológicos renováveis nos seus produtos, de forma circular.
Uma dessas oportunidades surge no contexto da atual pandemia e na certeza de que o uso generalizado de máscaras, juntamente com as medidas de distanciamento social e higienização das mãos, será fundamental no combate à mesma.
De facto, diversos estudos recentes apresentam evidências científicas de que a utilização generalizada de máscaras por toda a população reduz significativamente a transmissão do vírus e a sua virulência. Um estudo em particular apresenta a hipótese de que o uso de máscara reduz o inóculo ou carga viral para o utilizador, levando a manifestações assintomáticas ou menos severas da infeção para o próprio, enquanto previne a transmissão das partículas virais de indivíduos assintomáticos para os que o rodeiam. Assim, os autores concluem que na ausência de uma vacina ou cura para a COVID-19, o uso de máscaras comunitárias será talvez a ferramenta mais importante no combate à pandemia.
E, neste contexto, surge uma oportunidade para o setor têxtil: o fornecimento de máscaras comunitárias reutilizáveis, produzidas com fibras naturais ou obtidas de fontes renováveis, em detrimento das máscaras descartáveis, produzidas à base de polipropileno, um polímero derivado do petróleo e que pode persistir no meio ambiente por centenas de anos.
Cabe-nos, enquanto consumidores conscientes, privilegiar no dia a dia a utilização de máscaras comunitárias de base têxtil reutilizáveis, para ajudar a controlar o grande flagelo ambiental das máscaras faciais descartáveis, que perdurará por diversas gerações.
Assim, estaremos todos também a dar um passo do sentido da Bioeconomia.