Ricardo Silva
ste título parece fatídico, dramático e até ligeiramente derrotista, quando lido de relance, entre manchetes de notícias relacionadas com crises e guerras. Se dedicar uns dois minutos mais a este título, provavelmente a sua perceção sobre a mesma frase toma contornos completamente opostos após lê-la três vezes… ao fim de cinco vezes, começará a sentir um tremor na mão direita (ou na esquerda se for esquerdino) que a/o impelirá a escrever rascunhos numa folha de papel que esteja ao seu alcance. Este mesmo movimento muscular aconteceu comigo da primeira vez que me deparei com este exercício, chamado “o obituário”.
Desde esse momento, uso este mesmo exercício durante algumas vezes por ano para refletir sobre o rumo das atividades e empresas em que estou envolvido, sendo gestor direto da empresa, colaborador ou apenas um amigo ou parceiro de quem as gere.
Para quem é mais competitivo, parece um jogo de computador onde somos uma personagem que precisa passar por vários desafios e plataformas. Morremos das primeiras vezes e vamos aprimorando a técnica e a tática de jogo por forma a passarmos por esses desafios sem morrer, sempre em direção à recompensa final (o Super Mario era assim, para quem se lembra). Atualmente, há também uma série da Netflix muito parecida, chamada “Boneca Russa” (um outro nome para o mais comummente utilizado “Matriosca”).
Usando qualquer uma das analogias, o objetivo é o mesmo: pensarmos de que forma hoje a nossa empresa está a operar, quais são as condicionantes internas e externas atuais e futuras para respondermos à seguinte questão: “Qual a causa mais provável da nossa morte caso não mudemos nada?”
Tentar responder de forma categórica a esta pergunta leva-nos a formular várias possibilidades e cenários. O nosso instinto de sobrevivência levar-nos-á à próxima fase: “Que posso fazer hoje para não morrer daquela forma, daquela e daquela…?”
Ninguém conhece a sua empresa melhor do que os próprios gestores e colaboradores. Cada empresa é única, por mais semelhanças que possa ter com concorrentes ou parceiros. A equipa, a infraestrutura, o modelo de negócio, a propensão ao risco dos gestores ou até simplesmente o momento geracional que estão a atravessar.
Acredito que com pensamento organizado, racional, pragmático, lógico e com algum otimismo e alegria à mistura, conseguimos visualizar vários caminhos e possibilidades.
De um ângulo mais pessoal, dedico bastante de mim a cada visita comercial ou de prospeção tecnológica, a cada reunião institucional ou de inovação, por forma a aprender e compreender como funcionam as outras pessoas, as outras empresas, setores e indústrias e de que forma consigo encontrar novas maneiras para evitar morrer daquela forma que me parecia mais “provável” ao responder às perguntas anteriores. Como se organizam essas empresas? Como olham para o risco na sua área, como estabelecem prioridades e a organização das suas equipas?
Estar sempre atento e focado na mudança tem-me permitido olhar com otimismo e uma força crescente para os novos tempos e oportunidades. Ver de forma pragmática através da incerteza, priorizando a minimização de riscos futuros através do aumento de eficácia e eficiência processual e organizacional foi o caminho que escolhi para que daqui a 25 anos possa continuar a fazer este exercício do “obituário”.
E você? Já pensou “de que vai morrer a sua empresa?”
Um abraço e bons negócios.