CRIAR PONTES ENTRE O DIGITAL E IRL
T76 - Outubro 22

Ana Roncha

Académica, especializada em marketing de moda e desenvolvimento de marcas
A

pandemia foi uma das crises mais transformadoras que o cenário competitivo da indústria da moda enfrentou e 2022 pode ser entendido com o ano em que é fundamental criar pontes. Pontes entre os canais físicos e digitais, pontes entre moda e cultura, entre design e indústria, entre identidade física e virtual.

A dependência (forçada) do digital durante a pandemia levou os consumidores a familiarizarem-se cada vez mais com os canais digitais, mas também gerou a vontade de experimentar e interagir com novas ferramentas. Assistimos a uma maior abertura a vivenciar interações digitais imersivas, mas também recurso ao online para adquirir produtos físicos, assim como produtos e ativos digitais. 

Descobrir as melhores estratégias pós pandemia no que diz respeito à adoção de canais offline e online tem sido o foco das marcas para permitir o desenvolvimento da atividade contínua no domínio da moda e inovação através da adoção de tecnologias que promovam níveis mais elevados de envolvimento.

A Euromonitor estima que no período 2020-2025, 51% do crescimento do valor absoluto para o setor de moda global será digital. Além disso, à medida que a aceleração da tecnologia e sua proeminência na vida dos consumidores continua, estes adotam gradualmente formas mais imersivas de engagement digital com as marcas. A mudança ocorre ao ritmo desejado? Não. A curva de aprendizagem é ingreme e longa. 

Agilidade e capacidade de resposta são das características mais exigidas atualmente. Um modelo de omnicanalidade bem-sucedido é aquele que aproveita dados para criar uma experiência personalizada para o consumidor, já que compreender as suas preferências e histórico de compras pode gerar sugestões personalizadas relevantes que se traduzem numa maior conversão.

É cada vez mais importante entender que o futuro da moda passa por oferecer uma experiência híbrida e imersiva, assente em processos integrados e personalizados. Para criar pontos de contacto e afinidade com o consumidor torna-se essencial entendê-lo a fundo. Atualmente temos gerações que passam mais tempo online do que no mundo ‘real’, são assíduos em plataformas como Roblox e Decentraland, contribuindo para que o mundo virtual esteja a criar a sua própria economia, onde moda e jogos colidem.

Em 2021 assistimos também à entrada no mundo hyper-digital, com novas plataformas e ferramentas, permitindo aos consumidores acesso 24 h a compras em variados suportes e em mundos novos (virtuais), no chamado metaverso. Ao longo da próxima década, o metaverso irá evoluir para a introdução de novos canais de distribuição e receitas, começando com lojas virtuais imersivas, marcas descentralizadas, NFTs como motivadores de fidelidade e o aumento do comércio direto para avatar (D2A).

O crescimento dos canais digitais e as crescentes expectativas face ao formato da loja física produziram mudanças de paradigma evidentes. A função da loja física está cada vez mais ancorada na interação humana, experiência, narrativa e visibilidade, atuando mais como media e espaço lúdico para interação social, cultural e educacional e menos como espaço de transação.

Existe uma necessidade crescente de personalização da oferta, da mensagem, do produto, de explorar a moda enquanto experiência e cultura, de entender as marcas na sua vertente mais responsável e geradora de valor económico, ambiental e social. 

À medida que a relação entre os mundos físico e virtual continua a evoluir, entender as semelhanças, diferenças e interações na necessidade dos consumidores de autoexpressão entre as diferentes, mas cada vez mais integradas “realidades” apresenta mais oportunidades para as marcas se envolverem de forma mais significativa com seus consumidores.

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