Chega do fazer mais, criar só não chega!
T63 - Maio/Junho 2021

Ana Eusébio

Designer Têxtil
A

moda foi, é, e sempre será um tópico controverso no que toca a desperdício, consumo em massa e produções excessivas. Actualmente produzimos globalmente mais 400% do que à 20 anos atrás, o que equivale a cerca de 35kg de desperdício têxtil por pessoa por ano. Os números são assustadores e a velocidade a que esta indústria se desenvolve também.

É algo incrivelmente delicioso de se assimilar no que toca à compreensão da quantidade de indivíduos que consumem esta indústria, mas simultaneamente avassalador quando pensamos no impacto, principalmente ecológico, que este consumo em massa representa.

A moda é sem dúvida um universo multifacetado, com tantas expressões como as próprias tendências que o mesmo produz. Atinge todos os indivíduos, desde que se levantam até que se deitam, passando por todo o seu dia-a-dia e as suas experiências dai resultantes. Pensemos…durante o nosso dia quando não estamos vestidos?

Mais de 20 das nossas horas diárias são passadas com algum tipo de vestuário, e as restantes

4, provavelmente são passadas com algum tipo de têxtil lar! Feitas as contas levamos os nossos dias rodeados de moda. Mesmo achando que lhe somos indiferentes, ella esta lá.

Estará sempre. Isto faz de todos nós, consumidores activos de moda, assim como agentes activos desta imensa indústria.

É um mundo em constante actualização, no qual, cada vez mais e de uma forma positiva, as diferentes marcas se preocupam em transmitir conteúdo e não apenas produzir porque queremos criar algo novo. É uma trend que veio para ficar: Dar voz a assuntos pertinentes no mundo da moda! Não só porque criam impacto mas também, e acima de tudo, porque sensibilizam e alertam para as mudanças que a nossa sociedade e planeta desesperadamente necessitam. Transparência, preocupações ambientais, movimentos activistas, todos estes tópicos estão cada vez mais presentes nos discursos de moda.

Hoje em dia sabemos, se assim entendermos, o consumo energético gasto por cada peça de vestuário que adquirimos, sabemos quem produziu essa peça e onde, sabemos a proveniência dos seus materiais… e a lista continua. As marcas de moda, os produtores, e a indústria em si, estão cada vez mais focados nestas questões e, comprometem-se a fazer, não mais mas a fazer melhor. Chega do fazer mais, criar só não chega!

Portanto, enquanto agentes activos que consomem esta indústria nós também temos responsabilidade de não consumir mais, mas sim consumir melhor. A escolha é imensa, as opções também. Cabe-nos saber selecionar, e pensar nessa pequena ação de compra e no contributo que a mesma dará ao nosso planeta. Comprar a pensar em comunidade e não em individualidade. Comprar a pensar além da peça de vestuário. Comprar, vestindo a causa que estamos a adquirir.

A moda é muito mais que peças de vestuário, que expressões, identidades ou estilo. É uma voz activa para a mudança! E é esta mudança que temos, enquanto indústria, de continuar a alavancar, e enquanto consumidores, de começar a compreender e aceitar.

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