Certificações ecológicas são um negócio?
T13 Outubro 2016

Maria José Carvalho

Diretora do Departamento de Produção Sustentável do CITEVE
U

m destes dias perguntou-me um empresário: “Qual a certificação ecológica mais indicada para a minha empresa?”  Esta pergunta surge na sequência de um contacto desse empresário com um cliente, que lhe pediu uma coleção ecológica e certificada!

A pergunta é simples. A resposta é que é um pouco mais complicada.

Comecei por explicar que dependia das características ecológicas do produto ou da estratégia associada à coleção a desenvolver. Se, por exemplo pretender um produto que garanta a proteção da saúde humana, disse-lhe eu, o mais indicado será o Oeko-Tex® Standard 100. Se, por outro lado, quer desenvolver uma coleção com algodão (ou outra fibra natural), de produção biológica a mais reconhecida será a certificação GOTS (Global Organic Textile Standard). Tem ainda a possibilidade do Ecolabel (rótulo ecológico da União Europeia), que será indicado caso pretenda um rótulo mais diferenciador, por ter menos produtos têxteis certificados e ser mais difícil de obter.

Já com o empresário completamente confuso ainda lhe falo da certificação Made in Green by Oeko-Tex®, explicando que neste caso, além do produto ter de ser certificado Oeko-Tex® Standard 100, as empresas com processos a húmido ou químicos (tinturaria, estamparia, acabamentos, etc.) e confecções, envolvidas na sua produção, teriam de ser certificadas STeP by Oeko-Tex® (Sustainable Textile Production). Esta certificação garante, disse-lhe eu de forma simplista, que o produto não tem substâncias nocivas para a saúde humana e foi produzido de forma sustentável.

Existe no mercado, ainda acrescento, o rótulo Bluesign, que tem alguns princípios similares ao Made in Green e remato dizendo que estas são apenas algumas das certificações ecológicas, uma vez que existem mais de 100 tipos de certificações diferentes, só para artigos têxteis. Nesta altura, quase em desabafo, o empresário lança a pergunta: “afinal as certificações ecológicas são um negócio?”

Este empresário só faz perguntas difíceis, pensei. Mas concordei, são de facto um negócio, já que se trata da compra de um serviço a uma entidade certificadora, pagando-se as taxas de utilização do rótulo de certificação, ensaios que são necessários, auditorias que têm de ser realizadas, etc. e, em troca, a empresa recebe um certificado e a autorização de usar o rótulo dessa certificação.

De qualquer modo, reforcei, não basta pagar para ter a certificação. Não é como ir comprar um fato, em que desde que pague posso ter o fato que quiser. É necessário cumprir com os requisitos associados a esse sistema de certificação.

O melhor, disse-lhe eu, uma vez que há clientes que dão preferência ou até exigem determinado tipo de rótulo ecológico em detrimento de outro, será, antes de tomar a decisão, verificar junto dos seus clientes ou mercado de atuação, qual a certificação mais indicada para o seu produto.

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