Bem prega Frei Tomás…
T86 - setembro 23

Luís Cristino

Presidente da Assembleia Geral da Academia do Têxtil
E

ste é para mim o ditado popular que melhor descreve relatório da Changing Markets Foundation do inicio desta semana (https://changingmarkets.org/take-back-trickery/) , que veio mais uma vez colocar a nú o que as grandes marcas de moda apregoam acerca da circularidade e dos diversos programas de devolução/retoma de peças de vestuário que tem a decorrer por esse mundo fora.

Relatório que chocou alguns, mas que para mim não me chocou nada e na realidade deveria ter chocado ainda mais pessoas. (mas já lá iremos à revolta).

Os esquemas de retoma apresentados pelas grandes marcas de vestuário, são apresentados como uma opção conveniente para os consumidores e para o Planeta, que ao devolverem as suas roupas indesejadas diretamente às marcas de fast fashion, que prometem dar-lhes uma segunda vida, quer doando-as a quem necessita, quer reciclando-as em roupas novas. Mas na realidade, estes esquemas de retoma nada cumprem as suas promessas e a abordar eficazmente as questões sistémicas de resíduos geradas pela indústria têxtil e da moda, principalmente da fastfashion. Um verdadeiro greenwashing! (Punido no futuro, e bem!!).

Após 11 meses de estudo e de um rastreio inteligente por parte desta ONG, este relatório é um “abrir olhos” profundamente inquietante para a indústria da moda e para todos. 

As marcas não têm qualquer compromisso com a economia circular e eliminação responsável de resíduos e afins. A abordagem da indústria da moda para a sustentabilidade não deve ser baseada em acrobacias e truques de magia, mas em práticas transparentes, éticas e verdadeiramente sustentáveis. 

As marcas de vestuário daqui a pouco tempo serão obrigadas por lei a assumir total responsabilidade pelo fim de vida útil dos produtos que vendem, não basta simplesmente montar um esquema qualquer para ficar bonito nas montras das lojas. É importante que haja um plano bem pensado e sustentável para cada peça. A revenda em mercado de segunda mão, ou a reciclagem para novas fibras, ou artigos, entre outros, deve ser um dado adquirido e não exceção. 

A UE está diariamente a reforçar as suas regras em matéria de resíduos para se tornar a primeira região do mundo a combater a fastfashion. Mas a lei em alguns casos é ambígua e não favorece ninguém e estamos todos a perder! 

Nós, como consumidores, temos participação activa e significativa nesta jornada. As nossas escolhas, devem contribuir para uma moda com práticas responsáveis e de transparência, e não deveremos deixar de responsabilizar quem pratica greenwashing e continuar a exigir transparência, e pedir que as marcas assumam na integridade os compromissos assumidos em vez do lucro fácil!

A mudança não é apenas necessária, é urgente. ‘Sei que Roma e Pavía’ não se fez num dia” e que a indústria da moda sustentável e ética levará tempo e esforços consistentes para se edificar uma moda verdadeira e confiável. Mas assim não!

Partilhar