Rui Pedro Areias
A Gestão de Recursos Humanos, e as suas práticas, têm vindo ao longo dos últimos anos a ganhar um maior destaque ao nível do desenvolvimento organizacional. As organizações, fruto da intensa competitividade do mundo em que vivemos, começaram a aperceber-se da importância que as pessoas têm na sua produtividade, e como tal, procuram os melhores para pertencer às suas equipas. A indústria têxtil não é exceção. Também ela procura novos colaboradores capazes de evidenciar capacidade de inovação e de se tornarem recursos importantes para a sua organização. Mas, a verdade é que os resultados têm ficado aquém das espectativas, e o setor depara-se, há já algum tempo, com um problema estrutural: a dificuldade de recrutamento e o envelhecimento da sua mão de obra.
Mas e porque é que isto acontece? Para isso, procurei perceber através de um estudo empírico o porquê do afastamento das novas gerações a um setor tão importante e estratégico, como o têxtil, e entrevistei 17 pessoas da Geração Y e Z. Falamos de duas gerações muito características, e que apresentam alguns denominadores comuns, tais como: o crescente descomprometimento para com a organização; a maior preocupação pela manutenção da qualidade de vida e equilíbrio entre a vida familiar e pessoal; a desmotivação perante tarefas de carácter rotineiro e por outro lado, que vêm com bons olhos o uso das novas tecnologias no contexto laboral.
Através do estudo realizado, foi possível realçar algumas mudanças estruturais que se tornam necessárias de operacionalizar nas organizações têxteis. Desde logo, é importante que os gestores têxteis se interessem pela compreensão e observação dos jovens colaboradores. A oportunidade de promoção de carreira internamente deve também ser uma preocupação, uma vez que se as organizações têxteis querem reter, devem também ser capazes de atribuir ao colaborador a possibilidade de progredir internamente através, por exemplo, de processos de recrutamento interno, ongoing ou apostando na digitalização. Mas e os métodos de trabalho? Será que também não influenciam o afastamento destes jovens? Claro que sim. Grande parte dos colaboradores mostra a sua desmotivação pelo trabalho rotineiro e apreciam a rotatividade de funções, algo que poderá ser benéfico para empregador e colaborador, uma vez que o especializa em todo o processo produtivo. Podíamos ser fastidiosos e voltar a falar do sistema de salários e benefícios, mas vamos ser mais ousados. Oferecer benefícios para além dos salários, que impactem diretamente o bem-estar e qualidade de vida dos trabalhadores é, atualmente, uma necessidade.
Portanto, atrair as novas gerações ao setor têxtil, é possível? Sim, mas… com muito trabalho, consciência, compreensão e ajustamento de ambos os lados. Este é um problema real e sério, que deve ser encarado e combatido por todos, incluindo empregadores e colaboradores.