“AS PESSOAS NO CORAÇÃO DA ITV: COMO PROMOVER A FELICIDADE NO TRABALHO E RETER TRABALHADORES?”
T85 - Julho/Agosto 23

Ana Paula Dinis

Directora Executiva da ATP
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oi em 2018 que a ATP oficializou o dia 4 de julho como o “dia do Profissional Têxtil”, um dia para homenagear todos os profissionais, desde operários a gestores, passando pelos criativos ou tecnólogos, entre muitos outros que tem vindo a ser o pilar de desenvolvimento e do sucesso que este setor tem vindo a demonstrar, e que, apesar de todos os constrangimentos, crises e dificuldades, tem conseguido adaptar-se, regenerar-se, surpreendendo muitos, aqui e lá fora, de como é que na Europa, Portugal ainda consegue ter uma industria têxtil e vestuário tão pujante, rica, diversa, responsável, dinâmica, inovadora, criativa, sendo este sector considerado muitas vezes um case study em termos internacionais,

Tudo graças ao esforço e a dedicação de todos estes profissionais, um dos principais ativos da indústria têxtil e vestuário.

Este ano a ATP decidiu organizar um evento que fosse mais do que uma homenagem ao trabalhador têxtil, possibilitando uma reflexão sobre alguns dos temas que são relevantes no domínio do trabalho, um evento que denominámos “AS PESSOAS NO CORAÇÃO DA ITV: COMO PROMOVER A FELICIDADE NO TRABALHO E RETER TRABALHADORES?”.

Tivemos a oportunidade de abordar alguns dos constrangimentos esta indústria enfrenta em termos de atratividade e competências e gestão de recursos humanos, concluindo que é preciso melhorar a imagem desta indústria, ultrapassar alguns preconceitos sobre algumas profissões e sobre a própria indústria, promover uma melhoria da sua imagem sobretudo junto dos jovens para ajudar a regenerar o sector e atrair novas competências, essenciais para ultrapassar com sucesso esta dupla transição, digital e ambiental, que estamos a viver. É igualmente importante fomentar a aprendizagem ao longo da vida e diminuir os gaps entre a oferta e a procura de formação.

Fizemos uma viagem exploratória sobre a felicidade no trabalho e sobre os fatores que promovem a felicidade no trabalho. 

Mas afinal de contas o que é a felicidade? E o que é a felicidade no trabalho?

A felicidade é um conceito complexo, muito variável em funções das pessoas, das suas experiências, das suas ambições. Os caminhos para a felicidade variam muito de pessoa para pessoa. À medida que temos mais qualificações temos também outras ambições. E, por isso, sempre que as organizações crescem em termos de competências, devem crescer também em termos de gestão de expectativas. 

O futuro coloca muita pressão nos ambientes de trabalho. As pessoas tendem a ficar onde acham que têm futuro. Se entenderem que não há futuro, deixarão de investir naquele trabalho e procurarão alternativas. O futuro pode trazer ansiedade. Para evitar esta ansiedade é preciso ter confiança, confiança na chefia, confiança na equipa, confiança na gestão, confiança no futuro da organização.

Outro conceito importante na felicidade no trabalho é a capacidade de fazer as pessoas sentirem-se especiais, únicas, importantes. Isso só é possível com proximidade, conhecimento e uma gestão flexível. 

Um tema recorrente na gestão do trabalho é a demissão daqueles que não se demitem, uma demissão silenciosa. Apresentam-se ao trabalho, mas não estão comprometidos. Mais do que reter colaboradores hoje é fundamental motivá-los, envolvê-los para que coloquem toda a sua energia, criatividade e talento ao serviço da empresa. Não será seguramente fácil, até porque motivação não depende apenas de um fator: para além da questão salarial muitas vezes apontada como determinante embora não o sendo exclusivamente, sabemos que questões como a qualidade da experiência de trabalho proporcionada pela organização, um ambiente de trabalho positivo, com relações positivas entre colegas e com as chefias, uma boa liderança e acreditar no futuro são aspetos essenciais na felicidade no trabalhador.

Promover a felicidade no contexto de trabalho é um desafio grande, quer para os colaboradores quer para os empresários. 

De facto, nós temos organizações muito diferentes, com dimensões muito diferentes, com trabalhadores que tem visões, experiências, ambições e formas de estar na vida muito diferentes, com desafios pessoais muito diferentes, que valorizam coisas diferentes, também temos organizações muito diversas em termos cultura, história, estruturas, com desafios que vão muito além dos recursos humanos e por isso não é fácil conciliar tudo. 

Mas este é um conceito que está cada vez mais presente na gestão dos recursos humanos e quem não conseguir de uma maneira ou de outra ir dando resposta ao mesmo, sempre numa perspetiva muito dinâmica em função das necessidades e do momento, acabará por ficar para trás, sobretudo em períodos em que existe uma elevada procura especialmente para algumas profissões e em que cada vez há maior mobilidade do trabalhador. 

Sabemos que há muitas empresas no nosso setor que são exemplo em termos de responsabilidade social e gestão de recursos humanos, mas existirão outras que poderão ainda melhorar as suas práticas e, naturalmente, este é um percurso dinâmico, pelo que temos de estar sempre a evoluir, mesmo aqueles que já julgam fazer muito. 

A todos aqueles que dão o seu melhor e que contribuem diariamente para o sucesso desta indústria, o nosso muito obrigada, mas também a todos os que se juntaram a nós, neste dia do profissional têxtil para celebrar, homenagear e refletir sobre os desafios no trabalho da indústria têxtil e vestuário, em especial, ao Pedro Gonçalves, ao Reinaldo Sousa Santos, ao Ricardo Silva, ao Paulo Pimenta e à Mariana D’Orey. A todos o nosso agradecimento.

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