Apontar ao Couraçado
T15 Dezembro 2016

João Peres Guimarães

Membro do Conselho Consultivo da ATP
A

vida, das empresas ou das pessoas, é uma sucessão de lutas contra as adversidades. Ter sucesso não implica vencer exaustivamente todas as batalhas. Mas algumas, as mais importantes, não se podem perder.

O dia a dia das empresas têxteis portuguesas está repleto de dificuldades: concorrência desmedida e muitas vezes desleal, custos energéticos elevados, carência de profissionais habilitados, falta de apoios financeiros adequados à dimensão das empresas, surdez dos agentes políticos às reais necessidades da indústria, legislação laboral e ambiental desajustada às necessidades e ao tempo que se vive… e por aí fora. Após muito sofrimento a ITV foi capaz de ultrapassar várias adversidades e neste momento é necessário apostar na continuação do crescimento verificado nos últimos anos.

Para tal é preciso concentrar-mo-nos no essencial: liberdade e igualdade de oportunidades nas trocas comerciais, o que significa incrementar o número de acordos comerciais (Free Trade Agreements), acelerar os que estão em curso e simplificar os que já existem.

Foi com agrado que finalmente assisti à assinatura do CETA (acordo comercial com o Canadá) e com apreensão que acompanho o andamento do TTIP. Mas independentemente da relevância que estes acordos terão para a têxtil portuguesa há um que me parece ainda mais importante e cuja discussão se arrasta há anos: o acordo entre a U.E. e os estados mediterrânicos.

A assinatura do PanEuroMed Agreement é essencial para manter o ritmo de crescimento das nossas exportações têxteis. E paralelamente poderia ajudar a fixar no norte de África, em condições humanamente aceitáveis e vantajosas para todas as partes, os migrantes que se aventuram em travessias para a Europa.

Nesta convenção, crucial para a ITV, é a questão das Regras de Origem. A nível europeu cada país tem uma industria têxtil com diferentes interesses no que diz respeito à melhor defesa dos seus objectivos o que se refletiu na dificuldade em obter uma posição comum nesta matéria.

Após meses de acesa discussão entre os membros que constituem a nossa Federação Europeia – a Euratex – e na qual os interesses da ITV nacional são defendidos apenas e só pela ATP, foi possível , em 2011, chegar a um acordo interno. São regras complicadas sobretudo porque a ITV europeia precisa de se proteger de práticas desonestas e porque as tabelas alfandegárias não refletem as diferentes fases de produção da indústria de um modo adaptado à realidade e necessidade atuais.

Penso que é esta uma das mais importantes batalhas que neste momento temos que vencer. E decide-se em Bruxelas. É para lá que devemos apontar as nossas baterias.

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