ANO DE 2021: CONDICIONAMENTOS E EXPETATIVAS
T60 - Janeiro 2020

João Costa

Presidente da Selectiva Moda
e membro da direção da ATP
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 O agravamento do estado da pandemia veio adensar as ameaças à recuperação da economia que se perspetiva para 2021, depois da acentuada quebra do PIB no ano anterior. A inevitável extensão das condições de confinamento e o encerramento do comércio de loja – principalmente em centros comerciais -, determinará uma nova quebra na atividade económica e também na do Setor Têxtil e Vestuário, em especial pelo enfraquecimento das exportações. Embora o aumento da vacinação deva mitigar – e eliminar, espera-se -, esta situação epidémica, só a partir da segunda metade do ano, se tudo correr bem, se poderá contar com um alívio sustentado das condições de contágio e com a retoma progressiva, com relativa segurança, do estado de normalidade usual.

2.Neste contexto, as ajudas do Estado às empresas afetadas vão ter de continuar, porque essa será, para muitas das que venham a sofrer maior redução da sua atividade, a única maneira de as preservar e de assegurar os postos de trabalho, e de as manter aptas para o necessário impulso de recuperação que se seguirá. De entre as medidas de apoio, a prorrogação da moratória dos financiamentos assume especial relevância. E não basta que a prorrogação seja feita por um período equivalente ao dos novos condicionamentos. Terá de o ser por um período mais alargado, de dois ou três anos, de modo a permitir que as empresas que disso necessitem vençam as dificuldades e recuperem uma situação de normalidade económica e financeira.

3.Terminado em 31/12/2020 o período de transição do Brexit, foi finalmente, e já quase no fim do prazo, conseguido um acordo entre a UE e o Reino Unido. Um acordo de comércio livre, que terá certamente novos desenvolvimentos, mas essencial, com ausência de tarifas e de quotas em todos os bens que respeitem as regras de origem, para evitar constrangimentos maiores nas relações comerciais entre os dois mercados. O acordo bilateral de investimento entre a UE e a China, alcançado também nos últimos dias de 2020, e em negociação há sete anos, e que substitui os acordos existentes entre 26 países da UE e a China (a Irlanda manteve o seu), constituirá o princípio de um novo relacionamento entre estes dois importantes mercados. O processo negocial para o acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento, conhecido por TTIP (na sigla inglesa), entre a UE e os EUA, desenvolvido em intensas negociações ao longo de vários anos com a administração do Presidente Obama, e que foi interrompido na presidência de Trump, poderá ser retomado com a administração de Biden. Este acordo, tal como estava configurado, permitiria um grande impulso às duas economias e seria muito vantajoso para o STV nacional pelas acrescidas possibilidades de incrementar as exportações para os EUA.

4.O Programa de Recuperação e Resiliência, aprovado pela União Europeia para fazer face à crise económica resultante da pandemia, trará para Portugal importantes apoios, de muitos milhares de milhões de euros. Deveriam ser fundamentalmente orientados para investimentos reprodutivos e de melhoria das condições de produtividade e de competitividade da nossa economia, de modo a torná-la, efetivamente, mais resiliente, como se prevê no programa. Mas, pelo que se percebe da orientação do Governo, bem mais propensa a fomentar o apoio político e a conquistar o terreno eleitoral, muitos desses recursos irão financiar despesa pública não reprodutiva – e despesa que permanecerá no futuro – e contribuir para aumentar o peso do Estado na economia.

 

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