Rui Faria
União Europeia adotou há já bastante tempo uma política de abertura do seu mercado aos têxteis produzidos fora da Europa, nomeadamente asiáticos, que tem vindo a afetar seriamente a Indústria Têxtil e de Vestuário (ITV) em Portugal.
O facto de os referidos artigos têxteis chegarem ao nosso mercado sem qualquer controlo, à entrada, ao nível da presença de certas substâncias, como o formaldeído ou as arilaminas, fragiliza claramente a nossa indústria. Essa situação desfavorável decorre da imposição, de todos os seus clientes, relativamente à não utilização dessas mesmas substâncias nos artigos que produzem.
A nossa ITV é, assim, forçada a utilizar produtos químicos que não induzam a presença dessas substâncias, que são obviamente mais caros do que aqueles que não têm este constrangimento.
Este contexto de concorrência desleal é ainda agravado por toda a regulamentação ambiental e do setor químico, com destaque para a regulamentação REACH, que limita fortemente a oferta de produtos químicos, provocando um aumento dos custos de produção para toda a fileira têxtil.
Para além de uma política europeia paradoxal, que a constrange diariamente, a ITV está a ser também, cada vez mais, sujeita a exigências de toda a espécie por parte dos “retailers”, com um único objetivo: controlar, a todos os níveis, a cadeia de fornecimento. Tais requisitos, que teoricamente seriam implementados em todas as geografias, na verdade, dificilmente o são.
A Turquia é um caso de exclusão exemplar. Durante uma recente visita de quadros da Focor a empresas têxteis daquele país, quando indagamos sobre as exigências dos “retailers”, fomos surpreendidos pelas respostas negativas. Os compradores têm bem presente que vão comprar à Turquia porque é o preço lhes interessa, relegando tudo o resto para segundo plano.
A ITV portuguesa está, pois, a enfrentar grandes desafios e, apesar da grande capacidade de resiliência demostrada ao longo dos tempos, dificilmente os ultrapassará sem um apoio político determinado.