A oportunidade francesa
T69 - Janeiro 22

Braz Costa

Diretor-geral do CITEVE
A

década 2020-2030 tem vindo a ser apontada, mesmo antes do seu início, como uma década de muitas mudanças em matéria de ambiente, de energia e de clima. Os objetivos para o desenvolvimento sustentável encontraram o seu lugar no mundo e a estratégia europeia passa por fazer deste decénio um período de recuperação e convergência, assegurando maior resiliência e coesão, social e territorial. Muitos são os exemplos por essa Europa fora que se coadunam com esta estratégia. 

A Indústria Têxtil e do Vestuário portuguesa tem vindo a fazer uma adequada interpretação deste movimento e das especificidades que introduz nos nossos modelos de negócio, acelerando a transformação da nossa indústria nos últimos cinco anos, sobretudo ao nível da cultura de gestores, designers, etc.

É, de facto, muito importante estarmos atentos a sinais que nos permitam contornar obstáculos e agarrar oportunidades.

O início de 2022 trouxe mais um sinal que muito pode impactar a nossa indústria: a França decidiu incluir os Têxteis no quadro da proibição da destruição de bens não vendidos.

Atrás do pioneirismo francês, impulsionado pelo Secretário de Estado para a Transição Ecológica e Inclusiva, Brune Poirson, que foi já intitulado de ministro não oficial da moda francesa, sabemos que muitos outros países virão a adotar idêntica medida.

Ora, a adoção generalizada desta medida, aparentemente tão singela, impõe uma alteração profunda nos modelos de negócio das marcas, em especial das marcas de luxo.

Estas marcas, escudadas pelas gigantescas margens de lucro, recusam-se a desiludir os seus clientes por rotura de stock e promovem a produção em excesso, não hesitando a recorrer à incineração de excedentes, para não permitir que as peças não vendidas acabem por chegar ao mercado, destruindo assim um dos seus principais trunfos: a exclusividade.

E para a ITV portuguesa, fica o copo meio vazio ou meio cheio? É verdade que o controlo mais apertado de stocks levará as marcas a reduzir as quantidades encomendadas, mas valorizará indústrias / clusters que lhes apresentem soluções, muito provavelmente com base em proximidade, flexibilidade e rapidez.

Temos uma indústria já posicionada em segmentos high-end, perfeitamente reconhecida pela elevada qualidade dos seus produtos e serviços, pela crescente excelência no relacionamento com os seus clientes, com preços muito interessantes para esse segmento e que… está mesmo aqui ao lado.

Este passo em frente por parte dos franceses é mais uma oportunidade de a Indústria Têxtil e do Vestuário portuguesa se afirmar no fundo como a solução para o cumprimento inteligente da medida adotada. O copo fica a encher, diria eu, se o segurarmos direito.

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