A NOVA ANORMALIDADE
T58 - Novembro 2020

José Guimarães

Vogal da Direção da ATP
C

onfrontados com o perturbador e praticamente incontrolável crescimento epidemiológico, a nossa expectativa de retoma sanitária e económica induz-nos legítimas preocupações e eventual ansiedade.

As dificuldades e desafios decorrentes da nova anormalidade exigem-nos ajustados planos de ação, caracterizando e implementando processos dinamizadores e inovadores adequados à nossa atividade têxtil, aportando as melhores práticas e valorizando os recursos humanos.

Nos últimos 40 anos o Setor Têxtil foi confrontado com estigmas e avaliações que exigiram, algumas vezes, vigorosa intervenção de ousados e esclarecidos protagonistas empresariais.

Na década de 80, referenciado como setor desqualificado e desinteressante, a partir do momento da nossa adesão à CEE em 1986, o setor, felizmente, reagiu de forma positiva, modernizou-se, assumindo um inegável esforço de passagem da rotina para a criatividade, do pessimismo para a esperança, exteriorizando capacidade inovadora e empreendedora.

Mais tarde, em 1994, o relatório realizado pelo Prof. Michael Porter, por iniciativa do ministro Mira Amaral, promoveu sustentada e assertiva mais valia dos setores considerados tradicionais, possibilitando uma valorização relevante da existência do Setor Têxtil na economia nacional. Esta perceção potenciou o seu crescimento com implicação significativa na qualificação dos trabalhadores, no crescimento das exportações e no desenvolvimento tecnológico.

No início do século, novas inquietações setoriais surgiram com a formação da UE e das alterações na Organização Mundial do Comércio, com impacto desafiante na livre circulação de mercadorias, enfrentando consequentemente a desleal concorrência de países terceiros, em função de práticas injustas por abusivas e/ou desrespeitosas social e ambientalmente.

Posteriormente com a crise de 2008 a 2013, novas adversidades determinaram o apelo à capacidade de gerir os riscos intrínsecos, de agir com rapidez e inteligência definindo com competência as prioridades de ação.

Obviamente que nem todas as empresas conseguiram superar com viabilidade o momento, em resultado, provavelmente, da situação de dependência financeira, de estruturalmente obsoletas e da consequente incapacidade competitiva.

Nos tempos recentes, as nossas vidas sociais e empresariais alteraram-se significativamente. O vírus desconhecido está a testar, ao limite, as nossas capacidades. Esta nova anormalidade, exigiria, nomeadamente do Governo, através do Orçamento 2021, medidas objetivas de incentivo e estímulo para a atividade empresarial, revelando inequívoca solidariedade para com o tecido empresarial, como aconteceu durante a 1ª vaga pandémica, que agora negligenciou e desconsiderou na Proposta de Lei em referência, infelizmente!

Apesar desta flagrante insolidariedade, continuamos determinados a superar os obstáculos que nos confrontam permanentemente e a resistir às frequentes adversidades intrínsecas à atividade empresarial, honrando as diversas resiliências experienciadas, para ultrapassar com sucesso a nova anormalidade.

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