A norma da fluidez de género no vestuário
T78 - Dezembro 22

Benilde Reis

Professora Auxiliar na Universidade Lusófona de Lisboa
A

o que parece abandonámos a ideia, precedentemente bastante disseminada, de que só as mulheres têm obsessão pela moda. Contudo, com as mudanças no comportamento do consumidor verificamos que a moda é, sem dúvida, dirigida a ambos os sexos.

É preciso destacar e não esquecer que existem diferenças entre o sexo biológico, orientação sexual, androginia e diferentes tipos de género, entre outros termos, que ao associarmos o vestuário, é a base de criação da identidade de cada pessoa. Nos dias de hoje, a segmentação do mercado é muito mais dinâmica, do que no passado e as mutações da moda e do género são uma realidade e estão sempre em constante mudança.

O relatório anual State of Fashion 2023, apresenta um estudo feito por Klarna Inights em cooperação com Dynata, onde foi estudado, considerando diversos países, o comportamento de compras do consumidor em moda nas categorias de vestuário mulher e homem, com os consumidores dos Estado Unidos liderando o caminho. 

Portugal foi incluído neste estudo, indicando que 82% dos consumidores portugueses consideram comprar num futuro próximo mais vestuário/moda de género neutro; enquanto 23% dos portugueses já comprou vestuário/moda fora da sua identidade género. Os compradores mais jovens, especialmente com menos de 20 anos, são os mais propensos a procurar e a fazer compras pelas coleções de género fluido.

Ao haver pessoas que não se identifiquem com o sistema binário de masculino e feminino, o vestuário sem género é um identificador identitário no espectro do género. A suavização de diferenças das características do vestuário para mulher e para homem é um reflexo da época que vivemos, contudo, qualquer peça de vestuário irá ser sempre mais masculina ou mais feminina, uma vez que é algo enraizado na nossa cultura. 

As características do vestuário, como aprendemos desde sempre culturalmente, poderão ser sempre mais masculinas e outras mais femininas, no entanto, não se podemos esquecer que os comportamentos e os maneirismos das pessoas, também estarão associados a um identificador identitário de cada pessoa, o que acaba por completar a identidade de cada um. Desta forma, tal como nos dias de hoje uma mulher veste calças e se identifique com o género feminino, o ato de vestir calças já não remete à rigorosidade do género masculino. Porque é que o homem de género masculino que vista saia não tem o mesmo efeito?

O vestuário sem género faz parte desta fase que passamos na atualidade, que é a fluidez de género, começa a fazer parte de uma norma que embora como nicho de mercado, o vestuário sem género é uma realidade, causando impacto de peso económico, não sendo este de todo (apenas) uma manipulação capitalista, mas uma resposta pertinente a um nicho de mercado.

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