A moda portuguesa está num momento de viragem
T65 - Setembro 2021

Alexandra Cruchinho e José Carlos Neves

Diretores da área de Design de Moda da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
O

isolamento tornou as pessoas mais conscientes da sua finitude e da importância da relação com o outro. Os sucessivos confinamentos abriram caminho a uma alteração de prioridades, que é transversal a todos os setores. E a moda não é exceção.

A expressão “mais é menos e menos é mais!” não pode ser apenas um mote criativo, mas sim a imagem de marca de um setor empenhado na redução dos danos ambientais. Estamos a assistir ao crescimento de uma indústria sensível ao reaproveitamento e à redução do desperdício, uma indústria que aposta na investigação científica para criar matérias-primas menos poluentes a partir de resíduos. 

Simultaneamente, nascem projetos de sensibilização como o Green Circle, criado por Paulo Gomes – figura de referência da moda nacional – em parceria com a Associação Selectiva Moda e o Citeve, que conta também com a participação de designers de renome internacional. 

Projetos dirigidos à indústria têxtil, mas também aos criadores, aos consumidores e à sociedade em geral, iniciativas que pretendem alertar para a importância da sustentabilidade na moda, que aliam as preocupações ambientais à inovação. E inovar é preciso.

A moda nacional começa agora a olhar para dentro para chegar lá fora. Não importa copiar os modelos de negócio existentes ou tomar como referência coleções de grandes marcas internacionais, bem implementadas no mercado. Importa sim, ir ao encontro das necessidades do consumidor, um consumidor que já não procura uma simples peça de vestuário, mas muito mais do que isso, compra a história por trás dela.

Num país como o nosso, tão rico em heranças culturais, os designers encontram um oásis de oportunidades para valorizarem os seus produtos, para se reinventarem, para se diferenciarem no mercado através das sensações e emoções que imprimem e transmitem nas suas criações.

A moda portuguesa está num momento de viragem. Está a caminho de uma nova era marcada por avanços tecnológicos, que já se refletem nos desfiles e na apresentação das coleções. O 3D, a criação de avatares e peças de vestuário em software, a realidade aumentada e a realidade virtual ganham espaço, a passos largos, nos processos de criação e divulgação.

A pandemia trouxe mudanças estruturais à nossa sociedade que, muito provavelmente, irão manter-se quando esta for ultrapassada. Trouxe novos e enormes desafios que se prendem com a sustentabilidade económica, social e ambiental, mas também trouxe novas oportunidades criadas pelos avanços tecnológicos e pela crescente valorização do património cultural. Por isso mesmo, estamos atentos, otimistas e curiosos, perspetivando um futuro promissor para a moda, em particular para a Made in Portugal.

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