Miguel Pedrosa Rodrigues
inda que de forma superficial e rápida, aproveito este espaço para abordar 4 preocupações que entendo serem relevantes para a ITV actual, na expectativa de que futuras intervenções possam aprofundar cada uma delas.
Novas gerações, velhos hábitos – É uma excelente notícia a renovação geracional em curso na ITV, pois esta renovação veio trazer novas competências, mais sofisticação e mais “mundo” às nossas empresas. Deste processo resultam organizações com gestão melhorada, novas abordagens estratégicas essenciais e, por conseguinte, um passo importante rumo à sustentabilidade do sector.
É, no entanto, fundamental combater os velhos hábitos que insistem em passar de geração em geração: a) individualismo; b) inabilidade para cooperar; c) “crescer” a qualquer custo; d) não partilhar risco nem partilhar recompensa, não conseguindo olhar para os seus pares tal como eles são: pares e não concorrentes.
Desalinhamento na cadeia de fornecimento – A ITV portuguesa tem tanto de pequena como de especial. Somos flexíveis e rápidos, temos qualidade, temos capacidade de inovar e de desenvolver em todas as áreas do processo produtivo. É nestes termos que a marca Portugal se vai estabelecendo a passos largos e a qualidade das nossas empresas é hoje reconhecida.
Todas estas amenidades têm como destino acrescentar valor ao nosso cliente (e, naturalmente, aos restantes stakeholders), contudo receio que o nosso potencial possa estar limitado por alguns factores, como a dificuldade que os diferentes intervenientes na cadeia de fornecimento têm em compreender que só juntos e eficazmente articulados poderemos ser consistentes nesse acréscimo de valor.
Por outras palavras: é necessário o alinhamento de esforços, competências e compromissos desde o fornecedor do fio até à confecção (que faz a frente com o mercado e coordena toda a cadeia de valor). O tema é aborrecido e a sua solução passa por maior partilha de objectivos e dificuldades entre todos – cada um a pensar na sua coutada é que não será seguramente o caminho.
Indústria 4.0 – A popularidade e elevada adesão à versão 4.0 da ITV é um bom sinal, que se deve também ao trabalho exemplar da ATP e da COTEC na partilha de conhecimento e de experiências. Como coordenador do desenvolvimento de sistemas, processos e procedimentos na Pedrosa & Rodrigues (e permitam-‐me dizer-‐lhes que estas actividades se fazem sempre em equipa), tenho experimentado as dores de crescimento dentro do 4.0.
Contudo, o benefício desse crescimento é evidente e permite expressivos vislumbres do futuro, que enuncio de seguida: a) O investimento em TI´s vai crescer exponencialmente nos próximos anos; b) A fábrica do futuro irá operar sustentada em robótica, automatização e software, embora as pessoas sejam cada vez mais o seu coração e alma; c) Serão desenvolvidos KPI´s e Dashboards com capacidades preditivas. Ou seja, a informação que utilizamos para tomar decisões há-‐de traduzir tanto o “futuro previsível” da operação como o seu “passado”.
E uma nota rápida: se ocorrer uma evolução positiva das preocupações enunciadas nos pontos 1 e 2, estou seguro que levaremos a Indústria 4.0 muito mais longe.
A única certeza que temos é a incerteza – A incerteza é hoje um factor constante. Temos de viver com essa incerteza, e tal facto tem implicações na forma como gerimos e preparamos as nossas empresas. Queixar-mo-‐nos da incerteza, alhear-mo-‐nos dela, ou adiarmos o seu impacto serão abordagens pouco produtivas e de risco ainda maior.
É sobejamente conhecida a evolução da ITV nas últimas décadas e parece-‐me sensato estabelecer que muito mais irá ainda mudar – somos hoje muito diferentes do que éramos na década de 90 e não será polémico dizer que muito diferentes seremos em 2030.
A diferença da actualidade para os anos 90 é que as mudanças que ocorrerão terão um ritmo e intensidade muito mais dramáticos, e será a capacidade dos gestores para identificarem essas mudanças e a reactividade das suas estruturas e recursos a fazer toda a diferença.