A invisível dignidade do trabalho de aprender
T53 - Maio 20

José Manuel Castro

Diretor Executivo do Modatex
O

MODATEX, enquanto centro de formação profissional integrante do sistema público de emprego e formação, foi obrigado a suspender as “atividades letivas presenciais” no dia 18 de março, no contexto da crise pandémica do COVID19 no nosso país. Nesse dia foram suspensas todas as atividades de formação nos nossos oito espaços de formação e num grupo vasto de empresas onde decorriam também percursos de qualificação profissional. Nesse instante foram interrompidos 131 projetos formativos, envolvendo mais de 1200 formandos.

Para além da interrupção das atividades e do assustador estado de emergência, este foi o tempo de suspensão dos projetos de vida e de carreira de muitos dos nossos aprendentes. Na lentidão dos dias de confinamento, muitas das esperanças e do sentido dos investimentos pessoais e profissionais destas pessoas pareciam esboroar-se face a assustadores anúncios de tempos difíceis para muitas empresas e trabalhadores de sectores da Indústria Têxtil e Vestuário.

Para o MODATEX este foi também um tempo de múltiplos questionamentos face ao esvaziar da nossa atividade principal (e quase permanente): ajudar os adultos a aprender e adquirem qualificações e competências profissionais relevantes para o sector ITV e para o desempenho dos seus múltiplos papeis sociais (trabalhador, cidadão, consumidor, cônjuge, pai/filho).

O confronto com os espaços vazios do Centro, obrigou-nos a encontrar novos lugares e novos modos de reconstrução dos processos de aprendizagem. E a urgência dessa pressa levou-nos a descobrir meios comunicacionais que fomentavam a necessária mediação humana com os formandos do MODATEX. A crença, o engajamento e o compromisso das chefias, técnicos e formadores do Centro levaram à construção de raiz de um movimento de formação a distância, em suporte e-learning, que mobilizou a participação de muitos dos nossos formandos e que constitui já uma enorme evolução para os desafios do futuro da formação.

A consciência que temos da importância deste novo e moderno modo de aprender alerta-nos, contudo, para a imprescindibilidade dos espaços técnicos e tecnológicos, conjugada com a conceção e realização concreta de produtos/protótipos têxteis em ambientes reais ou simulados. E, sobretudo, para a relevância da figura do formador, do admirável mestre, capaz de iluminar os percursos de aprendizagem, fomentando sentimentos de autoeficácia e maestria nos seus aprendentes.

Desde o dia 18 de maio, lenta e progressivamente, com todas as medidas sanitárias exigidas, os/as formandos/as do MODATEX foram regressando às atividades de formação presenciais; regressaram também os nossos formadores (muitos dos quais trabalhadores independentes) e que viveram tempos economicamente muito difíceis.

Neste inicio de junho, temos já 400 formandos em formação presencial (conjugada com modelos a distância) em mais de 40 ações, aos quais se acrescentam outros quase 400 trabalhadores de empresas em lay-off, que optaram por desenvolver planos de formação extraordinários.

E todos regressaram em modo silencioso e quase invisível quando comparados com outros (também) “alunos e professores” do sistema de educação regular.

Sem televisões, notícias dos media e elogiosas referências à sua heroicidade e coragem.

Mas elas e elas, formandos do MODATEX, são um (novo) rosto da esperança que “tudo vai ficar bem”, na crença que os seus projetos de carreira/emprego se concretizarão pela sua motivação, desejo de aprender e fortíssimo compromisso vocacional com as profissões do sector ITV.

Partilhar