A Estratégia da UE para os Têxteis Sustentáveis
T72 - Maio 2022

Ana Dinis

Diretora Executiva da ATP
N

o final de março foi publicada a Estratégia da UE em prol da Sustentabilidade e Circularidade dos Têxteis, no âmbito da qual se define como objetivo para 2030 que produtos têxteis colocados no mercado da UE sejam duradouros e recicláveis, fabricados em grande parte a partir de fibras recicladas, livres de substâncias perigosas e produzidos no respeito dos direitos sociais e do ambiente. Tudo isto para refrear e reverter a Fast Fashion, e sobretudo, de substituir o modelo de economia linear por um modelo de economia circular.

Entre outras medidas, a Comissão Europeia (CE) propõe-se definir requisitos de conceção ecológica vinculativos para produtos específicos, a fim de aumentar o desempenho dos têxteis em termos de durabilidade, possibilidade de reutilização, reparabilidade, reciclabilidade das fibras e teor obrigatório de fibras recicladas. E ainda minimizar e controlar a presença de substâncias que suscitam preocupação e de reduzir os impactos adversos no clima e no ambiente. 

No âmbito do novo Regulamento sobre a Conceção Ecológica de Produtos Sustentáveis, a CE planeia introduzir um passaporte digital dos produtos têxteis, baseado em requisitos de informação obrigatórios sobre a circularidade e outros aspetos ambientais fundamentais. O próprio Regulamento de Etiquetagem dos Têxteis será revisto passando a incluir obrigatoriamente parâmetros de sustentabilidade e circularidade e, eventualmente, o made in (será que é desta?).

Outra das medidas importantes será a regulamentação para eliminar o greenwashing. É fundamental que as alegações ecológicas sejam apenas utilizadas nos têxteis verdadeiramente sustentáveis, objetivo que se pretende alcançar com a revisão dos critérios de atribuição do rótulo ecológico da UE para os têxteis e outras iniciativas.

Esta Estratégia define ainda objetivos e identifica um conjunto de medidas e iniciativas para a promoção das competências necessárias no âmbito desta transição ecológica (e também digital), sendo de destacar o Pact for Skills e a valorização do ensino e formação profissional, – inicial e ao longo da vida – em áreas tão diversas como o design, o desenvolvimento ecológico do produto, o desenvolvimento de fibras, processos produtivos inovadores, reparação, reutilização e reciclagem de fibras. 

Para atingir com sucesso os objetivos desta Estratégia, será igualmente fundamental apoiar a investigação, a inovação e os investimentos nestas áreas. 

Para concluir, uma questão essencial e muitas vezes reclamada pela indústria têxtil e vestuário portuguesa e europeia: a fiscalização no mercado, tendo em conta que a maioria dos produtos à venda na UE são importados de países terceiros. A EU reconhece que é fundamental uma maior coordenação e cooperação entre autoridades nacionais responsáveis pela aplicação da lei e metodologias mais eficazes de fiscalização do mercado, sendo para o efeito vital a recém-criada Rede da UE para a Conformidade dos Produtos. 

Enfim, grandes mudanças, muitas iniciativas e medidas em discussão que exigirão de todos nós a maior atenção e envolvimento possível, para que os resultados respondam às nossas expectativas e necessidades, com o objetivo de conseguirmos uma indústria mais competitiva, mais resiliente, com maior valor acrescentado e mais sustentável.

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