A ATP apresenta preocupações do sector ao Governo
T79 - Janeiro 23

Mário Jorge Machado

Presidente da Direção da ATP
A

ATP foi recebida recentemente pelo senhor Secretário de Estado da Economia, Pedro Cilínio, a quem endereçou um conjunto de preocupações, sem deixar também de evidenciar que este é um setor importante na economia nacional, que Portugal é um dos principais players no contexto europeu, que esta é uma indústria que tem um passado, mas tem igualmente um futuro, sobretudo se soubermos aproveitar bem as oportunidades e os diferentes desafios que temos pela frente e se as políticas públicas e a administração pública estiverem, de facto, ao serviço da economia e das empresas.

Partilhámos com o Secretário de Estado que a estratégia de sustentabilidade e circularidade imposta aos têxteis por Bruxelas e as medidas que estão a ser discutidas no seu âmbito, em particular o passaporte digital, poderão ser uma oportunidade para, desde logo, conseguir o objetivo primário de um negócio mais amigo do ambiente, mas sobretudo para que as empresas que têm vindo a apostar fortemente nestas prioridades consigam um maior retorno desse investimento em termos de resultados comerciais e financeiros. 

Isto desde que, de facto, se consiga maior transparência na informação veiculada, informação que ajude realmente os consumidores a tomarem decisões conscientes e baseadas em informações verdadeiras e comparáveis e sobretudo se imponha um maior controlo aos produtos vendidos no espaço comunitário.

Embora o ano de 2022, segundo as estimativas da ATP, tenha terminado com mais um recorde nas exportações do setor, ultrapassando os 6 mil milhões de euros, todos sabemos que isso nem sempre se traduz em resultados líquidos positivos. E, efetivamente, 2022, para muitas empresas do nosso setor, foi dramático em termos de resultados operacionais e financeiros, com uma luta sem precedentes imposta pela crise energética a que se veio juntar uma contração no consumo e na procura, em consequência de uma subida generalizada dos preços e das taxas de juro e de um crescimento do nível de incerteza e de uma possível recessão.

A ATP aproveitou este momento para, entre outros, reclamar por medidas de apoio mais céleres e mais eficazes, dando nota que será essencial o Governo adotar medidas adicionais para fazer face à quebra na atividade que se vive neste setor e que se prevê continuar nos próximos meses, bem como acelerar a implementação das já anunciadas. Entre a discussão, a aprovação e a implementação temos sempre um período demasiado longo, que, nalguns casos, pode ser fatal. E temos uma entropia do sistema que não serve as necessidades das empresas e da economia que funciona num ritmo muito diferente.

Partilhámos ainda várias preocupações relacionadas com o financiamento e com os programas comunitários de apoio, entre atrasos incompreensíveis no encerramento de projetos e pagamento de saldos finais, arranque tardio do Portugal 2030, atrasos nas respostas às candidaturas a medidas essenciais para as empresas deste setor, como, por exemplo, na descarbonização da indústria, a importância dos programas de apoio à internacionalização e a possibilidade de várias ações de internacionalização ficarem comprometidas se as calls não vierem no tempo certo. 

Ainda no campo do financiamento, não deixámos de manifestar a necessidade de o Banco Português de Fomento ser muito mais ativo e um promotor do financiamento das empresas, sobretudo quando estamos a assistir a uma prática muito defensiva por parte da banca privada.

Entre as medidas necessárias, voltámos a apelar à importância de termos um regime de lay-off mais flexível, eventualmente simplificado, mas sobretudo mais célere, entre a tomada de decisão e a sua aplicação prática, para benefício de empresas, mas sobretudo de trabalhadores e da economia. 

Ainda no campo laboral, expressámos a nossa preocupação com as medidas que têm vindo a ser implementadas no Código de Trabalho, tornando a nossa lei ainda mais rígida e pondo em causa a competitividade das empresas.

As preocupações manifestadas pela ATP foram reforçadas pelos vários empresários que estiveram na Heimtextil, no âmbito da visita feita pelo Secretário de Estado da Economia a esta feira, a convite da ATP e da Anit-Lar, lembrando que os têxteis-lar são um dos subsectores mais impactados com a crise energética e com a estagnação do consumo.

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