A arte do têxtil não se pode perder
T67 - Novembro 2021

Paulo Pereira

Engenheiro Têxtil
A

iniciativa governamental que pretende restringir o recurso ao outsourcing de empresas que tenham recorrido ao despedimento colectivo ou extinção do posto de trabalho, poderá ser excessiva e irá colocar dificuldades. Os trabalhadores têm sido considerados pela generalidade do tecido empresarial como um custo a reduzir, mas ao mesmo tempo, assistimos a queixas de empresários que não conseguem obter trabalhadores e técnicos para garantir as operações. É conhecida a falta de costureiras, tecelões, afinadores e outros técnicos.

Salvo raras excepções, o têxtil em Portugal tem procurado uma maior competitividade internacional usando a redução de custos, a externalização da produção e uma maior capacidade de resposta aos clientes. A estratégia parece correcta e consistente, mas enfrenta a capacidade asiática de fornecer o mesmo serviço, com maiores volumes de produção e melhores preços. Para compensar a falta de competitividade, temos vindo, a apostar na proximidade geográfica e a recorrer ao Norte de África para aquelas produções que não conseguimos fazer em Portugal, quer por preço quer por incapacidade de resposta.

Falhamos também em perceber que os nossos clientes mudaram para estratégias mais sustentáveis. Na verdade, aquilo que eram marcas de entrada de gama, só o são nalguns países europeus, na generalidade do mundo são marcas de gama alta e estão a posicionar-se como tal.

Portanto, necessitamos mudar mentalidades. A proximidade geográfica, que nos permitiu manter o têxtil, tem de passar a incluir uma proximidade pessoal. Num mundo pequeno onde tudo fica perto, efémero e está ao alcance de um click não podemos seguir o caminho de falsas interacções pessoais, um qualquer manual de apoio ao cliente. Temos de estabelecer relações duradouras com todas as pessoas que fazem parte do eco-sistema da empresa. Não podemos esquecer que hoje a aldeia se chama Mundo.

Em Itália, que para muitos é um exemplo no têxtil, o artesão é valorizado. E um artesão é muita mais que aquele que faz artesanato, é aquele com capacidade fazer. Posso contar a história de um arquitecto italiano que resolveu morar no Porto e precisava de colocar papel de parede na sua casa. Tentou contratar alguém em Portugal e não conseguiu. As pessoas estavam tão focadas em optimizar os seus contratos que nem tempo tinham para atender o cliente, ou para fazer um trabalho de menor escala. 

A solução encontrada foi trazer uma pessoa de Itália, nas suas palavras “um artista”, que viajou juntamente com ele e ficou na casa dele. Por cá temos empresas que se organizam em torno de uma estrutura comercial e de planeamento, colocando as produções em unidades externas, de uma forma quase aleatória, como se fosse indiferente quem faz o quê.

As relações pessoais e a valorização do conhecimento e experiência têm de importar, para não seremos ultrapassados por gigantes asiáticos com manuais de procedimentos que as simulam de uma forma descartável.

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