T64 - Julho/Agosto 2020
Corte & costura

Júlio Magalhães

Querer ser global
Projetos de moda portugueses em calendários internacionais
Hugo Costa

Já lá vão os tempos em que a inteligência vinha de fora e os portugueses se limitavam a produzir, hoje os designers nacionais já são reconhecidos nas semanas da moda internacional. Mas Hugo Costa não deixa de recordar: "lembro-me de episódios em feiras internacionais e showrooms em que ficavam surpreendidos porque a marca era Portuguesa"

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s marcas industriais e os estilistas já não estão de costas voltadas? 

Considero que estão mais próximas do que há 10 anos atrás. Mas ainda há um caminho a percorrer de valorização do design e dos designers nacionais. Esse caminho tem que continuar a ser estimulado pelas diferentes associações dos diferentes sectores que compõem a indústria de moda nacional.

Como evoluiu a imagem da moda portuguesa nos mercados externos nos últimos 10 anos?

Novamente, acho que ainda há um longo caminho a percorrer. Durante muitos anos (e ainda hoje) Portugal era reconhecido como país produtor, meramente produtor. A inteligência tinha que vir de fora. Lembro-me de episódios em feiras internacionais e showrooms em que ficavam surpreendidos porque a marca era Portuguesa. Hoje já vemos reconhecimento dos designers Portugueses nas semanas de moda internacionais. Basta olhar para Alexandra Moura, Marques’Almeida, Miguel Vieira e David Catalán, e até mesmo o meu projeto com acesso a calendários oficiais de diferentes semanas de moda. 

O comércio online veio facilitar a vida das empresas com menos capacidade de investimento?

Sim. É o acesso direto ao consumidor final. Com uma boa análise de mercado conseguimos conquistar clientes de qualquer parte do mundo. Os mercados deixaram de estar divididos geograficamente mas mais por interesses e estilo de vida que podem ser transversais a pessoas de todo o mundo. Além disso, as margens de venda são muito superiores o que permite criar mais investimento em marketing e comunicação, fundamentais no dia de hoje.

Pergunta obrigatória: Como tens sobrevivido à pandemia?

Vamos fazendo o que podemos. Felizmente, além da marca, temos uma empresa que vai prestando serviços de design de produto e criação de conteúdos digitais, mais direccionada para a indústria, que por conta das alterações do mercado, tem sido mais solicitada. 

O mercado nacional é importante para as tuas vendas ? 

Costumo dizer que é fundamental funcionar tudo bem em casa para o resto estar bem. E temos sentido uma maior procura da marca no mercado nacional.

Qual é o mercado externo onde gostarias mais de ter sucesso? 

Neste momento não pensamos muito nisso, a nossa estratégia é 100% digital e desta forma torna-se global. 

Perfil

Designer, começou por querer ser engenheiro informático, mas depressa concluiu que a vida sem arte não é possível. Presença regular na Semana de Moda Masculina de Paris, além das coleções em nome próprio, ele e a sua equipa desenvolvem também serviços para outras marcas. Casado, dois filhos, a par do fanatismo pelo FCPorto mantém o vício de jogar à bola, mas também gosta da corrida e andar de bicicleta.

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