T44 - Junho 19
Corte & costura

Júlio Magalhães

Uma nova perspectiva
Habituámo-nos a associar a têxtil às imagens de despedimentos e o FFF veio mostrar que o setor soube dar a volta
Sílvia Camarinha

"Hoje há empresas que pagam creche aos filhos dos funcionários, que oferecem seguro de saúde, que potenciam formações avançadas, que pagam salários acima da média. E isso é notável", revela Sílvia Camarinha, a cara do FFF, sobre a nova vaga da Indústria Têxtil Portuguesa

O
O

que é que o Fashion Film Factory veio trazer de novo à moda e aos têxteis nacionais?

Sobretudo espaço de antena a uma indústria que está em plena transformação e reinvenção. Habituámo-nos a associar a têxtil às imagens de despedimentos e vigílias à porta das fábricas e este magazine televisivo vem mostrar que o setor soube dar a volta e reinterpretar o que o mercado pedia. E que só pode ser feito por empresas inovadoras, com produtos de valor acrescentado e que valorizem os trabalhadores.
No seu trabalho dos últimos anos tem contatado com muitas das novas realidades da textil e moda portuguesa. O que é que mais a surpreendeu?

Desde logo o empenho e coragem com que muitas empresas souberam aguentar as crises. Há muita resiliência no setor. E depois foi para mim uma surpresa perceber que ganhamos imensos prémios em feiras internacionais. E isso é incrível! Por último, as condições de trabalho que vou agora encontrando nas empresas. Hoje há empresas que pagam creche aos filhos dos funcionários, que oferecem seguro de saúde, que potenciam formações avançadas, que pagam salários acima da média. E isso é notável.

Também tem feito muitos e bons trabalhos e reportagens nas feiras internacionais onde vão empresas portuguesas. Como sente o reconhecimento internacional do universo português da moda e dos têxteis?

Eu acho que os estrangeiros estão fascinados, nunca pensaram que Portugal pudesse ser tão inovador. Na última Techtextil tive a oportunidade de conversar com o diretor da feira e a forma empolgada com que ele falou dos produtos feitos com cortiça que Portugal levou à feira foi assinalável.

Acaba de ser lançada a sexta edição de outro FFF, o Fashion Film Festival. Como vê a evolução deste certame?
O festival tem sido uma alavanca para realizadores e marcas, mas tem sido sobretudo uma oportunidade para as empresas olharem para si mesmas com outros olhos. Muitas já estavam habituadas a pensar em filmes institucionais, mas um fashion film não é isso. O exercício de transpor para um filme com alto valor estético a imagem de uma marca, os produtos que desenvolve ou mesmo os valores que regem a companhia, tem sido fabuloso para as empresas. Acho até que muitas descobriram uma nova forma de se apresentar ao mundo.
Também tem um fraquinho pela moda de autor. Que opinião tem dos novos criadores e jovens valores da moda portuguesa?

Também o design português está a descobrir novos caminhos. É interessante ver os jovens criadores apresentarem peças inovadoras mas vestíveis, algo que há alguns anos não era tão comum. Estão a encontrar formas de não comprometer a sua criatividade, ao mesmo tempo  que criam produtos que são comerciais em mercados específicos. Vê-se isso com a Inês Torcato, o Hugo Sousa ou mesmo a marca Duarte.

Acredita que esta tendência macro nova da moda sustentável veio para ficar ou vai ser rapidamente descartada?
Ser sustentável é uma tendência forte e, sim, algumas empresas estão a criar produtos nesta linha só porque existe uma crescente procura do mercado. Mas outras já perceberam que ser sustentável é, acima de tudo, uma necessidade. Acho que terão mais sucesso as empresas que tiverem uma visão holística da sustentabilidade. Não me parece que só apresentar produtos orgânicos ou reciclados vá fazer a diferença no futuro. É preciso uma mudança mais profunda neste que é segundo setor mais poluente do mundo.

Perfil

A jornalista dos Fashion Film Factory é a cara da produtora Farol de Ideias praticamente desde os primórdios. A paixão pela dança – “jazz, funk e hip-hop, sobretudo” - só é superada pelo amor caseiro, do Carlos (marido) e da Maria Rita (3 anos, a filha de ambos). Por entre as filmagens em feiras, fábricas e desfiles de moda, perde-se também com as séries e programas de história na TV.

Partilhar