T58 - Novembro 2020
Corte & costura

Júlio Magalhães

É só pontos fortes
"Portugal tem uma coisa extraordinária que é aliar tradição à inovação"
Helena Antónia Silva

"Temos imensas empresas a dar cartas a nível internacional em economia circular, fibras ecológicas, tecidos inteligentes, produção certificada e um posicionamento de mercado altamente reputado mundo fora", afir,a Helena Antónia Silva, fundadora do projecto Vintage For a Cause

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ual é a causa maior da Vintage For a Cause ?
A causa da marca é não só reduzir e reaproveitar o desperdício têxtil, como promover o envelhecimento ativo e a ocupação das mulheres desempregadas acima dos 50 anos. Isto com um modelo de negócio de base colaborativa que envolve designers e fábricas ou marcas que queiram ter uma solução para os seus excedentes ou stock morto.

Acredita que vai dedicar-se um dia 100 % às vendas on line?

Este ano, de facto, houve um aumento significativo das vendas online. Por outro lado, a venda em lojas físicas fora de Portugal, que angariamos com a presença na Neonyt, sofreu uma quebra sem perspetivas de retoma a curto prazo, o que nos leva a concluir que é o online que melhor permite contornar esta instabilidade. Mas para uma marca com peças únicas, que não está consolidada, é importante ter pontos físicos onde o produto possa ser visto e experimentado. Ceio que vamos ter de ir gerindo uma estratégia híbrida.

Para além da Neonyt por que outras feiras passa a sua aposta na
internacionalização?

A Neonyt é a feira da especialidade que cobre um maior número de mercados onde há maior recetividade ao upcycling, à inovação, e serve bem um perfil de marcas de dimensão micro, como é a nossa. É, por isso, a primeira escolha. À medida que a marca se torne mais robusta ou que outras feiras se direcionem de forma mais clara para este perfil de retalho, fará sentido abordar outros mercados.

Como tem sido a experiência na Between Parallels e como vê o futuro próximo dessa plataforma ?
A Between Parallels é um projeto embrionário que nasce de algumas colaborações informais entre marcas  com o mesmo objectivo e que vai muito de encontro ao modelo de negócio colaborativo que nos caracteriza. Acredito que com a estratégia e parceiros adequados, vai ser uma alavanca muito importante para pequenas marcas do segmento da sustentabilidade.

Portugal está a portar-se bem no combate ao desperdício?
No “portar-se bem” podem ser incluídas muitas coisas. E não há um ponto de chegada a esse nível, é um caminho de melhoria contínua…. Portugal tem uma coisa extraordinária que é aliar tradição à inovação. Temos imensas empresas a dar cartas a nível internacional em economia circular, fibras ecológicas, tecidos inteligentes, produção certificada e um posicionamento de mercado altamente reputado mundo fora.

A pergunta obrigatória : como está a Vintage For a Cause a lidar com estes tempos de incerteza nos mercados e na vida?
Para uma start-up com a nossa natureza, os tempos de incerteza e dificuldade já existiam antes da pandemia. A verdade é que todo o investimento feito em 2019 para internacionalização e que começou a dar frutos no início de 2020 foi posto em causa e obrigou a uma revisão rápida da estratégia, a uma maior otimização em todos os aspetos. E por isso, a pandemia também trouxe um contexto de oportunidade muito interessante para a marca. Está a ser uma aprendizagem e uma prova de resiliência enorme e a dificuldade principal está mesmo na gestão deste paradoxo de desafio e oportunidade.

Perfil

Fundadora e multi-tasker do projecto Vintage For a Cause, 51 anos, licenciada em Direito. Passou ainda pela advocacia, de onde fugiu depois de uma formação em empreendedorismo e inovação social, e como filha de uma costureira – “queria que fosse estilista” – logo fez agulha com o mundo da moda. Partica kick-boxing como “uma espécie de balett com luvas” e gosta de estar sempre a estudar. A gata Siena é a sua companheira nos momentos de reflexão.

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