Criada no Têxtil
“Lá em casa ao jantar as conversas eram sempre sobre a fábrica. Fui aprendendo por osmose”
Sara Pinto
T31 Abril 2018
Emergente

T

Vocação sugerida
Toda a gente dizia: “É tão boa aluna, que é uma pena não ter ido para Medicina”.

Estava a meio do curso de Medicina, quando o germe da dúvida se instalou na cabeça de Sara - e ela começou a interrogar-se sobre se deveria atravessar o resto da vida vestida com uma bata branca e com um estetoscópio ao pescoço. Mas não ficou preocupada. Duvidar não é agradável, mas ter certezas é pior - até pode ser estúpido.

A
A

o fim e ao cabo, o método cientifico baseia-se na dúvida, que nos leva a fazer novas experiências para confirmar se as teorias tradicionais continuam válidas.

Estava a meio do 6º ano do curso, quando deixou de duvidar da dúvida. Preferia experimentar uma vida alternativa à de passar meia dúzia de anos a fazer a especialidade de Medicina Geral e Familiar e acabar colocada no Interior Norte ou no Alentejo.

“Sentei-me com a família e o meu namorado e expliquei-lhes o que me ia na cabeça”, conta Sara Pinto, 25 anos, a propósito de uma conversa ocorrida há coisa de um ano, mais exactamente a 21 de março, no dealbar da primavera de 2017.

A família compreendeu as suas razões. “Se achas que vais ser mais feliz na fábrica do que como médica de família, o melhor é tentares. Mas acaba primeiro o curso”, conclui o pai, Joaquim, 64 anos de uma vida dedicada aos trapos, que em 1996 fundou a JOAPS, uma empresa especializada em malhas circulares que leva na razão social as suas iniciais (JO) bem como as dos seus dois filhos – Pedro (médico que está a fazer a especialidade de Cirurgia Vascular) e Sara – e da mãe deles (Armanda),

Sara acabou o curso em julho, com média final de 15 valores, tirou o agosto para férias – passadas entre as Caraíbas (Cuba) e o Médio Oriente (Israel e Jordânia) – e a 1 de setembro apresentou-se para trabalhar.

“Fui muito bem recebida, o que me deixa com a responsabilidade de corresponder às expectativas que depositaram em mim”, conta Sara, que debutou no Sales Department da JOAPS e já esteve na ISPO e em três Première Vision (duas de Paris e uma de Nova Iorque).

Provavelmente a têxtil é a mais exigente das indústrias, mas a vida de Sara preparou-a para o desafio. “Lá em casa ao jantar as conversas eram sempre sobre as coisas da fábrica. Fui aprendendo por osmose”, graceja esta jovem nascida em Famalicão, que andou até ao 9º ano no Colégio das Caldinhas, em Santo Tirso, antes de ir estudar para o Externato Ribadouro, no Porto,

A escolha de Medicina não foi exatamente por vocação. Uma adolescência ultra preenchida, em que fez ballet (dos três aos 16 anos), o Instituto Britânico e aprendeu piano, tornou-a uma pessoa metódica, trabalhadora e disciplinada – mas não lhe deixou tempo nem disponibilidade de espirito para tomar logo em mãos o seu destino.

Toda a gente dizia: “É tão boa aluna, que é uma pena não ter ido para Medicina”. A nossa sociedade tem destas coisas  – e ela deixou-se ir para o curso que Pedro, o irmão três anos e meio mais velho, já frequentava.  “Os meus pais nunca me impuseram nada”, ressalva Sara que, na verdade, tinha notas excelentes – concluiu o secundário com média de 18,7 valores.

“Estava atenta nas aulas, quando chegava a casa revia a matéria, e era muito organizada. Mas a minha grande paixão era o ballet, que me ajudou a desinibir, a ser mais descontraída no relacionamento com as pessoas e a lidar com a pressão e o público”, confessa.

Não se arrepende. Gostou do curso de Medicina (“foi muito interessante”), mas a dúvida sobre se queria ou não levar a vida como médica foi crescendo, ano letivo após ano letivo, até que a meio do 6º ano, depois de muitas noites em branco, se achou capaz de tomar uma decisão e mudar de rumo.

“Até agora tem sido espectacular!”, resume, quando questionada sobre esta experiência de pouco mais de meio ano como comercial e assessora do pai. Sara está plenamente convencida que estava certa quando decidiu fazer o seu próprio destino – e está cheia de planos. Em setembro vai iniciar uma pós graduação em Gestão na Católica, para se apetrechar com conhecimentos e ferramentas que lhe possibilitem ajudar a JOAPS a crescer a dois dígitos ao ano – e a aumentar o peso das malhas sustentáveis, orgânicas e técnicas no volume de negócios.  Tarefas à altura de uma médica cuja ação não tem fronteiras.

Cartão Do cidadão

Família Solteira (o namorado, João, formado em Gestão Hoteleira, é um jovem empresário) Formação Licenciada em Medicina (ICBAS) Casa Apartamento na Foz do Douro Carro Mini Cooper D  Portátil Mac Telemóvel iPhone X Hóbis Ler, pintar, viajar (“o meu luxo preferido”). “Gostava de ir mais vezes ao ginásio, mas ando viciada no Netflix :-)”  Férias Este ano está a pensar ir aos Estados Unidos, mas ainda não decidiu para que costa, se para a East ou a West Regra de ouro “Estar bem comigo e com os outros, ser honesta, trabalhadora e otimista”

Partilhar