Marta Vinhas
Um caminho enredado que se clarificou
Marta Vinhas
T89 - Janeiro 24
Emergente

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Sensihemp
Um resgate da tradição

A Sensihemp luta por ultrapassar as dificuldades e continua a mostrar que é possível fazer diferente. E Marta persistente nos seus valores impregnados na insígnia continuará perto da comunidade que pretende ver crescer em uníssono com a sua marca

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arta Vinhas contactou desde cedo com a têxtil, não fosse a sua mãe costureira, arte que a CEO da Sensihemp aprendeu observando. No ensino secundário enveredou por um curso tecnológico de Artes e Ofícios e sonhava com Arquitetura. Porém, aos 18 anos decidiu sair de casa e começou a trabalhar numa linha de montagem de sistemas elétricos de automóveis em Santo Tirso.

Empenhada e competente, foi promovida para o departamento de compras. “Altura em que decidi fazer os exames de acesso à faculdade e em que descobri estar grávida e, então, mudei os planos”. Em 2002, a unidade de produção mudou-se para Marrocos e Turquia e, tendo rejeitado a proposta, a agora CEO empregou-se num departamento de compras para a têxtil, no mesmo período em que a Inditex mudou parte da sua produção para Portugal. 

Começou na Comdipunt onde esteve mais de sete anos, mas a sua experiência na indústria têxtil estendeu-se por vinte anos. “Eu não sei lidar com injustiças e com coisas que via e fui mudando de departamento e de empresa à procura de algo que fizesse sentido. Até que percebi que era um problema geral”, confessou. 

Por problema entendam-se os maus pagamentos e a falta de condições e a extração desenfreada de matérias-primas da natureza. Sobretudo porque a CEO se foi conectando cada vez mais com a natureza e com as técnicas artesanais: “fui aprender a tosquiar ovelhas para criar burel e também fui cultivar linho numa aldeia que o tinha como típico, por exemplo”. 

Ora, em 2018, os valores de Marta Vinhas alinharam-se e começaram a traduzir-se em algo mais concreto. Começou com o voluntariado na 2ª edição da CannaDouro. Na altura, como contou, o seu conhecimento sobre o cânhamo era básico e, lá, descobriu todo um mundo que se cruzaria com o seu caminho. Assim, entre 2018 e 2020, falou com todos os contactos que estabeleceu com o seu trabalho na ITV para saber o seu conhecimento sobre essa matéria e “foi muito complicado, pouca gente sabia o que era e os que sabiam nunca tinham trabalhado”. No entanto, decidiu arriscar e investir: surgiu a Sensihemp.

Foi em fevereiro de 2020 que se despediu do seu emprego estável na Coutrapos e acabou por sofrer as intempéries da pandemia. Com o levantamento das restrições em setembro de 2021, foi com o pouco que restou que abriu atividade. “Juntei-me a algumas marcas estrangeiras que já trabalhavam com o cânhamo e eles colocaram-me algum material à consignação e eu fui para o mercado com os meus protótipos e foi aí que percebi que tinha um projeto de valor”, revelou.

Vencedora de vários projetos como o World Project e o Relança-se e também de prémios – ‘Melhor Produto de Inovação’ na Feira Internacional CBD Hemp Business Fair e ‘Melhor Produto de Cânhamo’ na CannaDouro 2022 – a Sensihemp é reflexo dos valores da sua CEO: “a indústria têxtil não pode retirar recursos sem devolver algo à terra; não usar químicos; ter uma cadeia de valor fair pay; ser ético; e toda a minha cadeia tem que assentar nestes valores”. 

Nesse sentido, a Marta pretende gerar riqueza na comunidade, cuidar do planeta e das pessoas. “O projeto é para resgatar a tradição do saber-fazer que caiu no esquecimento. Pretendo democratizar o cânhamo e introduzir na ITV, pois acredito que pode mitigar os efeitos causados pelo ser humano. Claro que não devemos deixar de utilizar outras fibras, mas se aumentarmos a utilização do cânhamo (que nem chega aos 2%), poderá ser importante para os 17 ODS”.

Ciente que a mudança tem que ser sistémica, a Sensihemp luta por ultrapassar as dificuldades e continua a mostrar que é possível fazer diferente. E Marta persistente nos seus valores impregnados na insígnia continuará perto da comunidade que pretende ver crescer em uníssono com a sua marca. 

Cartão Do cidadão

Família A filha de 22 anos, o cão Olly e o gato Rodrigo Casa Na Póvoa de Varzim Carro Suzuki Vitara Formação Curso Tecnológico de Artes e Ofícios Portátil MacBook Telemóvel iPhone Hobbies Limpeza de praias; fazer desporto (skate, kickboxing, bodyboard, correr); ler; ir ao cinema, ao teatro, a exposições; caminhadas na montanha, fotografia Férias As últimas foram na neve da Serra da Estrela Regra de ouro “A passagem do ser humano na terra não poder ser em vão, ela tem que fazer diferença”

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