Sucesso instantâneo
“Em pouco tempo passei a ter encomendas de todo o país, Aveiro, Lisboa, Sintra e mesmo do Algarve”
Norma Silva
T49 - Dezembro 19
Emergente

António Freitas de Sousa

A escolha óbvia
“Escolhi os têxteis porque são fáceis de conseguir, têm grande variedade de cores e uma enorme versatilidade"

Cola branca, verniz ecológico e principalmente desperdícios têxteis. Com três matérias-primas apenas, Norma Silva transforma aquilo que parecia já não ter qualquer préstimo em objetos de arte artesanal – vasos, terrinas, taças e até mesmo pequenas mesas de apoio – que vão até onde a imaginação da sua criadora lhe apetecer.

P
P

ara além da produção de peças de arte – um fim em si próprio suficiente – o trabalho artesanal de Norma Silva, que chega ao mercado sob a marca Jinja, tem também duas finalidades: uma evidente, o combate ao desperdício, outra mais pessoal, a recusa em trabalhar em organizações cujo racional de negócio não cabe nos parâmetros ideológicos da designer.

Acantonada em São Felix da Marinha, perto de Espinho e junto à estação de caminho de ferro da Granja, uma obra de arte votada ao desperdício das intempéries da meteorologia, Norma Silva preocupou-se em, antes disso, ter mundo. E tem.

Concluiu a licenciatura em Design na Escola Superior de Artes e Design (ESAD) em 2007 – depois de ter andado às voltas com Escultura – e partiu para Barcelona, onde, na Elisava, instituição de ensino e pesquisa de design de orientação internacional pertencente à Universidade Pompeu Fabra, esteve quase dois anos.

Que não terão sido totalmente gratificantes: “era um ensino direcionado para trabalhar em empresas industriais e isso não estava bem de acordo com as minhas ideias”. Como quem não está bem, muda-se, Norma inscreveu-se no INOV Art e, depois de ser escolhida, foi para Los Angeles. Por ali esteve ao longo do ano de 2008, trabalhando num gabinete de arquitetura que tinha na arte pública uma das suas raízes.

O estágio não podia durar sempre, e Norma acabaria por regressar à Europa. Mas não desde logo a Portugal: em 2009 estaria em Madrid, onde trabalhou na área da cenografia – “que tem muito a ver com o design” – e onde descobriu que, com ela, os Estados Unidos tinham enviado para a Europa uma coisa que entrará nos livros de História da Economia com o nome de ‘crise do subprime’. “Foi nessa altura que tive a certeza que acabaria por voltar para Portugal” – num quadro em que a economia da União desacelerou de tal forma que deixou de haver dinheiro para financiar o que não é estritamente necessário. Como sempre nessas circunstâncias, a área cultural é a primeira a sentir os efeitos colaterias dos desmandos de quem verdadeiramente manda nas finanças.

Corria o ano de 2012 quando Norma Silva se decidiu a criar uma marca, a Jinja, e na qualidade de empresária em nome individual começar a procurar material reutilizável que lhe sustentasse a opção pelo artesanato – que fica nos antípodas da atividade industrial. “Escolhi os têxteis porque são fáceis de conseguir, têm uma grande variedade de cores e uma enorme versatilidade em termos de utilização; o têxtil será sempre a minha base de trabalho”, ao que por vezes acrescenta madeira, se proveniente de uma primeira utilização.

Sozinha e sem financiamento inicial que pudesse ajudar, Norma Silva não estava preocupada com o projeto em si nem com a escassez de recursos, mas antes como a necessidade pessoal, possivelmente muito íntima, de fazer alguma coisa que a possa fazer sentir-se bem, útil e nunca predadora dos cada vez mais finitos recursos naturais.

Começou num espaço de co-working, a CRU, que tinha também uma loja onde os artesãos vendiam as suas peças. Acrescentou a essa ‘montra’ os mercados de rua – que proliferaram na cidade muito rapidamente – e “em pouco tempo passei a ter encomendas de todo o país, Aveiro, Lisboa, Sintra e mesmo do Algarve”. Mais inesperado ainda, chegou a ter encomendas vindas do estrangeiro: o Reino Unido e a República Checa, geografia de onde é também oriundo Václav, o seu companheiro, pai das suas duas filhas. A tudo isto acrescentou uma loja online e as redes sociais – a que deveria ligar um bocadinho mais, mas não tem tempo.

Mas o apelo do mundo não se cala dentro dela: à boleia da Selectiva Moda, foi a Paris, cidade onde as luzes ainda estão acesas para as artes. “Valeu a pena”, diz. E pode ser que a partir daí muita coisa aconteça.

Cartão Do cidadão

Família vive com o companheiro, Václav, checo, ilustrador, e com as duas filhas, Elena, seis anos, e Sofia, dois anos Formação licenciatura em Design na ESAD e mestrado na Elisava, Barcelona Casa Vivenda em São Félix da Marinha Carro Renault Clio Portátil HP Telemóvel iPhone Hobbies Dança contemporânea (“uma paixão”), teatro, natureza, praia Férias O Japão é a viagem de sonho Regra de ouro Procurar o equilíbrio entre as experiências boas e más, para conseguir ser feliz

Partilhar