Luani Costa
Luani inspirou-se na natureza para desenvolver a membrana premiada na TechTextil
Luani Costa
T21 Junho 2017
Emergente

Jorge Fiel

Luani Costa
Ainda pensou ser investigadora policial, mas a paixão pela Matemática e a Física acabou por levá-la à Arquitectura

Aos 25 anos, Luani Costa ganhou o 1º prémio (um cheque de 1 200 euros) no concurso internacional de Estruturas Têxteis para Novas Construções promovido pela Techtextil

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os 25 anos, após ganhar o 1o prémio (um cheque de 1 200 euros) no concurso internacional de Estruturas Têxteis para Novas Construções promovido pela Techtextil, Luani Costa corre o sério risco de se tornar a mais famosa filha de Laguna, desde a sua conterrânea Anita Garibaldi, a companheira do líder italiano da célebre revolta farroupilha que em meados do século XIX proclamou a efémera República Juliana nesta cidade do estado brasileiro de Santa Catarina.

Mais nova das duas filhas do matrimónio entre uma doméstica e um trabalhador da empresa de abastecimento de águas de Laguna, Luani não chegou ao têxtil pelo sangue – mas talvez tenha sido contaminada por osmose da envolvente, já que Santa Catarina é o estado onde bate o coração da indústria têxtil e de vestuário brasileira.

Ainda lhe passou pela cabeça tornar-se investigadora policial, quando fosse grande, mas a paixão pela Matemática e a Física – rara entre os adolescentes -, acabou por a atirar para a Arquitectura, um capítulo do conhecimento situado na bissetriz entre os números e o desenho, duas disciplinas muito a seu gosto.

Ainda durante o curso, e por influência dos professores, começou a focar o seu interesse numa área específica, o restauro de edifícios, pelo que não espanta que o estágio final e o primeiro emprego tenham sido a aprender a trabalhar na reabilitação de casas e edifícios em Florianópolis, a capital do Estado, por conta de uma construtora de S. Paulo.
Até estava a gostar da experiência, mas não olhou para trás quando lhe apareceu pela frente a hipótese de ir trabalhar numa empresa de montagem de stands em Tubarão, bem pertinho da sua Laguna natal.

Não estava mal em Tubarão, só que ela, além de poupada e organizada, também é ambiciosa e já tinha tatuada na cabeça a ideia fixa de que iria continuar a aprofundar os estudos, prosseguindo a formação académica com um mestrado – e o destino Portugal já estava escrito há algum tempo, por recomendação de um cunhado que estudara na Universidade do Minho.
Atravessou o Atlântico e, focada como é, deitou mãos ao trabalho que acabaria por ser distinguido em Frankfurt. O plano inicial era passar apenas um ano em Guimarães e depois voltar a casa para escrever a tese de mestrado. Mas a vida acabou por lhe atrapalhar esses planos.

Resolveu ficar por cá, e após a dissertação de mestrado, feita sob a direcção de Raul Fangueiro, tornou-se investigadora nos centros de investigação 2C2T e ISISE da Escola de Engenharia da UMinho – e está a preparar-se para dar aulas, fazer o doutoramento e começar a trabalhar num atelier de arquitectura em Valongo. Ufff! Até cansa só de escrever 🙂

“Entre outras coisas, procurei replicar a fotossíntese feita pelas folhas”, conta Luani que se inspirou na natureza e na capacidade de modificação das folhas das plantas para desenvolver a membrana premiada na TechTextil, que resolve alguns problemas da construção civil, um sector poluidor e muito consumidor de energia.

Destinado a fachadas e coberturas, o painel da Luani é uma espécie de ar condicionado natural, pois reduz drasticamente a perda de calor no Verão e o aquecimento excessivo – e ainda repele a água, muda de cor e tem capacidade para gerar electricidade.

Ter deitado âncora em Guimarães é a prova dos nove de que a adaptação a Portugal não foi difícil. Apaixonou-se pelo país, mas não fecha os olhos nem a boca ao que a decepcionou. “Estava à espera que fosse mais desenvolvido”, confessa, acrescentando que sente um bocado a falta de viver ao pé do mar: “Em Laguna, a nossa casa fica a 200 metros da praia”.

Mas também não poupa nos elogios quando se trata de elencar os prós de viver aqui: “É bem mais tranquilo que o Brasil. A educação e a saúde são muito melhores. Os transportes públicos também”, reconhece Luani, uma catarinense que, por muito estranho que pareça, quando estava no Brasil não ligava ao futebol, mas que em Guimarães se tornou um fã do Vitória (“Adoro ir aos jogos no Afonso Henriques”, confessa), e pode parecer que não, mas isto só pode querer dizer muito sobre o seu processo de aculturação ao nosso país, não acham?

Cartão Do cidadão

Família Em Portugal, resume-se a um “quase namorado” 🙂  Formação Curso de Arquitetura e Urbanismo (Universidade Estadual de Santa Catarina, Brasil) e Mestrado em Construção e Reabilitação Sustentável (UMinho) Casa Andar em Azurém, Guimarães Carro Não tem  Portátil Avell (uma marca catarinense)  Telemóvel Huawei P9 Lite Hóbis Ver séries de TV (This is Us é a favorita) e viajar (no Verão passado andou um mês entre Praga, Viena e Budapeste e ainda deu um salto à Croácia)  Férias Este ano tem três objectivos: Algarve, Berlengas e Paris  Regras de ouro  “Não pensar – fazer. E ser sincera, por muito que isso magoe, digo sempre o que acho sobre tudo”

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