Aprender In Loco
"Saímos da universidade sem sabermos nada do que é realmente uma empresa, como funciona, como é gerida"
Juliana Almeida
T46 - Outubro 19
Emergente

António Freitas de Sousa

Preparar para a crise
Ciente de que se avizinha um período de desaceleração de consumo, a equipa esta empenhada em desbravar novos mercados

A primeira vez que passou pelas portas envidraçadas da faculdade de economia da Católica do Porto, Juliana Almeida sabia que não iria passar pelas angústias do primeiro emprego: desde nova que tinha como certo que a JF Almeida – uma têxtil vertical lançada pelo Pai há precisamente 40 anos – seria o lugar onde iria debutar para as asperezas da vida dos grandes

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uando há quase quatro anos foi bater à porta da empresa, a administração propôs-lhe uma de duas vias para tomar mão ao peso de um grupo que já por esses dias estava acantonado no segmento superior do ranking muito movimentado e muito concorrencial do setor têxtil nacional. Só por isso, a tarefa já não seria fácil e a escolha tinha de ser a mais acertada. Entre uma espécie de ‘tour’ que a levasse a conhecer os cantos mais recônditos de toda a enorme casa – o que necessariamente seria, no mínimo, bastante demorado – e a aposta na colaboração dentro de uma empresa paralela à JF Almeida, a Mi Casa Es Tu Casa, Juliana Almeida hesitou apenas o tempo que lhe levou a imaginar os dois cenários. Escolheu o segundo: afinal, trazia na mão o canudo que lhe conferia o apetrecho necessário. Mas não, ainda, a sabedoria: “saímos da universidade sem sabermos nada do que é verdadeiramente uma empresa, como funciona, como é gerida”, diz – para explicar que a aprendizagem, ao invés de ter acabado na Católica, começava na JF Almeida. A ver pelo resto da história, Juliana parece ter aprendido depressa: menos de quatro anos depois, acumula a colaboração na Mi Casa com a gestão do braço armado da JF para o imobiliário (a RMJJ) e responde pela área de marketing do grupo – onde avulta uma revista própria, a Loom, que nenhum escaparate desdenharia poder divulgar.

Mas, apesar de toda a pressa com que aprendeu como se faz uma empresa como a JF Almeida e da muito preenchida movimentação diária a que essa aprendizagem obriga, o processo de evolução da sua carreira na empresa aparenta ser das coisas que menos a preocupa. Sendo a mais nova dos quatro filhos do fundador, Juliana não está empenhada numa corrida de estafetas com os manos mais velhos ( Rui, Miguel e João, por ordem decrescente de idades) com a sucessão como meta. “Temos uma consultora espanhola a criar um protocolo familiar, mas a opção da família é que os quatro venham a ter uma posição paritária na gestão, com as tomadas de decisão a obdecerem à maioria” (necessáriamente 3 contra 1, na pior das hipóteses) dessa espécie de futuro órgão colegial.

Mas entretanto alguma coisa se modificou: no meio das responsabilidades diárias em três frentes distintas, Juliana Almeida ainda teve tempo para casar-se – com alguém que ainda tem mais pressa que ela: Miguel Correia, piloto de automóveis que está a ser um caso sério de sucesso – e, mais enebriante ainda, foi Mãe pela primeira vez. O Vasco fez-se anunciar desde o fim da lua-de-mel (passada nas Maldivas e no Dubai) e há seis meses que dita as suas leis. Parece que de repente todas as coisas ganharam uma relatividade diferente e a Juliana Almeida não lhe passa pelo horizonte (o mais próximo ou o mais longínquo) ser uma Mãe ausente, sem o tempo, sem o carinho necessários a quem tem de aprender a ser.

Mas também não será por isso que Juliana Almeida perderá o foco no grupo empresarial que por estes dias corre sob o signo das quatro décadas – com o fundador a acrescentar quatro filhos e quatro netos: ciente de que se avizinha um período de encolhimento das compras em alguns mercados de referência para a JF Alemida (“França e a Espanha estão a comprar menos”), a economista está, juntamente com o resto da equipa, a desbravar novos mercados que de algum modo possam substituir o menor empenhamento consumista de gauleses e iberos. Mas não só: tem em mãos o desenvolvimento de um projeto imobiliário num armazem recentemente comprado pela RMJJ, umas instalações tristemente abandonadas numa geografia próxima de Moreira de Cónegos, sede da JF. Mais: a Mi Casa És Tu Casa tem ela própria uma casa nova, a partir da qual vai continuar a desenvolver o seu segmento de negócio (roupa de cama), que de pequeno não tem nada: já vale 10 milhões de euros. Ah, e agora que acaba de fazer 27 anos, vai voltar ao ginário já em outubro.

Cartão Do cidadão

Família Vive com o marido, Miguel Correia, piloto de automóveis (entre outras coisas) e com o filho Vasco, de seis meses. Parte da família vive numa circunferência com um pequeno raio e epicentro em Guimarães Formação Licenciada em Economia pela Universidade Católica do Porto Casa Um apartamento em Guimarães Carro BMW série 4 coupé Portátil Sony Telemóvel Iphone 8 Hobbies Viajar e ler Férias A próxima de sonho é a Nova Iorque, mas o estrangeiro está sempre no horizonte Regra de Ouro “Enfrentar sempre os desafios com humildade, seriedade, ambição e determinação”

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