Movido a desafios
“O resultado é o ponto chave. Os desafios são tantos e diários, mas não imaginam o gozo que me dá resolvê-los”
Fúlvio Mendes
T43 - Maio 19
Emergente

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Um homem, cinco ofícios
A sua profissão? É empresário, artista plástico, designer, criativo ou especialista em tecnologia

Se por acaso passarem por Creixomil e tropeçarem em designers da Versace, Dior ou Moschino não precisam de espremer as meninges a tentar descobrir o que é que eles andam a fazer por ali. É fatal como o destino que o que os levou lá foi a fábrica da Fave, de Fúlvio Mendes, parceira destas e de muitas outras marcas conhecidas (Acne Studio, Pierre Balmain, Corneliani, Lion of Porches, Mike Davis …).

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úlvio chegou aos 40 anos e tem de pensar duas vezes antes de responder quando lhe perguntam qual é a sua profissão, pois pode dizer, sem mentir, que é empresário, artista plástico, designer, criativo ou especialista em tecnologia. Ele é tudo isso, mas para sermos mais precisos é uma casamenteiro, pois especializou-se em matrimoniar a arte e tecnologia com a têxtil.

É bem mais simples descrever o que faz a Fave-Design e Tecnologia, porque o próprio nome dá uma ajuda, principalmente se soubermos que Fave são as iniciais de Fashion Art Value.

“Fazemos animação de vestuário, usando técnicas alternativas ao estampado e ao bordado, como alta frequência, termocolados e outras tecnologias. Todos os anos mandamos milhares de amostras aos clientes, para que eles saibam em que estamos a pensar. As amostras são o que já fizemos. O que fazemos depende dos desafios que eles nos colocam”, explica Fúlvio.

A Fave uma empresa criativa e tecnológica que desenvolve os produtos dentro de portas, em Creixomil, com os estilistas de grandes marcas. O resultado final surge da fusão, por osmose, entre a linha de trabalho definida pela marca e a técnica e ideia sugeridas pela Fave. Pelo meio há sempre muitos nós para desatar, mas para Fúlvio isso é um vício que lhe dá imenso prazer.

“Estamos sempre a ser desafiados para ir ainda mais além do que oferecemos. Às vezes demora tempo. Se não resulta à primeira, tentamos uma segunda, uma terceira vez … até conseguirmos. Chegar ao resultado é o ponto chave. Os desafios são tantos e diários, mas não imaginam o gozo que me dá resolvê-los”, conta Fúlvio, um artista plástico emprestado à têxtil.

Filho dos donos de um supermercado, temos de recuar ao avô materno, que foi debuxador na Macal, para encontrar uma costela têxtil em Fúlvio, que só mesmo no finalzinho do Secundário, feito na Francisco de Holanda, se decidiu por Pintura – em cima da mesa também estavam Arquitectura, Engenharia ou Design.

Com 18 anos instalou-se no Porto, na zona de S. Lázaro, à distância de um tiro da faculdade. Gostou do curso, que financiava dando explicações de Geometria Descritiva, e a vida começou logo a correr-lhe bem – ainda andava no 4º ano e já mostrava os seus trabalhos na galeria bracarense Mário Sequeira, a primeira das 55 exposições individuais e coletivas de uma carreira artística que durou até aos seus 33 anos.

O objeto artístico não tem de ser inútil, pode fornecer ao mesmo tempo o prazer de ser visto e de ser usado – este pensamento era o Norte para onde apontava a bússola da arte de Fúlvio e está consubstanciado na mesa/escultura onde ele trabalha, e que fica ao lado de uma mesa, de tamanho XXL, que também funciona como catálogo, onde se amontoam milhares de amostras de tecidos animados, com um telefone em volume, a imagem de um disco de vinil, etc, etc.

A viagem das artes para a têxtil iniciou-se em 2006, quando fundou, com uma colega de mestrado (Suzana Ralha), a Between Art and Life, empresa cujo programa estava resumido na razão social. Fizeram t shirts, toalhas de praia, capas de edredão que também eram objetos de arte, tudo assinado e numerado, declinando a gramática da Factory de Andy Warhol.

A aventura durou três anos. Em 2009 foram varridos pela crise. “Não éramos do meio. E não tivemos capacidade financeira para levar o projeto para a frente”, explica Fúlvio, que deu aulas, foi designer free lance, entre outros biscates, até que em 2013 foi convidado para fazer design industrial e de produto numa têxtil – onde se demorou apenas dois anos pois a administração que o convidou demitiu-se e o projeto para que fora convidado ficou em águas de bacalhau. Mas como ele não é homem para se ficar e desistir, resolveu assumi-lo por conta própria – e assim nascia a Fave – Design e Tecnologia.

Cartão Do cidadão

Família Solteiro, namora há mais de 20 anos mas ainda vive com os pais Formação Licenciatura em Pintura (FBAUP, 2001), pós graduação em Práticas e Teorias do Desenho (FBAUP, 2005) e mestrado em Design e Marketing (UMinho, 2008)  Casa Apartamento no centro de Guimarães Carro Alfa 159 cinza Portátil Mac Telemóvel iPhone 10  Hóbis Apaixonado por motos clássicas, tem três BMW: uma R 50 (de 1968), outra R 100 (anos 70) e finalmente a R 80, dos anos 90, que era usada pela polícia espanhola Férias Faz sempre praia no Algarve, mas vai mudando de sítio e marca sempre apenas oito dias antes, pois nunca sabe quando vai ter oportunidade para as tirar Regra de ouro “Os processos são sempre mais gratificantes do que o fim em si mesmo. Por isso são eles que valem a pena”

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