A influência da Avó
"A minha avó Bertila ensinou-me a fazer ponto cruz e estava sempre a fazer vestidos para mim"
Francisca Veiga
T41 Março 19
Emergente

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O Sonho da NO.ID
Depois de a ter desenhado em parceria com a Têxtil Nortenha, Francisca quer levar a NO.ID por esse mundo fora

Em criança a avó Berila ensinou-a a fazer ponto cruz e a fazer os primeiros vestidos, depois, no liceu viria a desenhar o seu primeiro projecto individual, e desde aí que a sua grande vocação estava definida. Francisca Veiga, uma sonhadora por natureza, é a designer por detrás da nova marca da Têxtil Nortenha, a NO.ID, que agora começa a dar os primeiros passos no mercado.

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ndava no 12º ano, na Escola Camilo Castelo Branco (Famalicão), quando a sôtora de Materiais e Tecnologias deu três materiais à escolha para apresentarem um trabalho. Ela optou pelo metal. Foi num sonho noturno que lhe veio a inspiração de fazer um modelo à la Paco Rabanne, um vestido todo metálico. “A professora adorou, eu fiquei radiante, ficou logo ali decidido que iria estudar Design de Moda”, conta Francisca, 26 anos, recordando aquele que provavelmente foi o momento mais decisivo de sua vida.

Filha mais velha do casal fruto do matrimónio de um empreiteiro e uma esteticista de S.Miguel de Seide, Francisca tem de recuar até à geração anterior à dos pais para encontrar as raízes para a sua vocação para as coisas da moda.

“Em miúda passava muito tempo em casa dos meus avós. A minha avó Bertila ensinou-me a fazer ponto cruz e estava sempre a fazer vestidos para mim e roupas para as minhas bonecas”, lembra a designer, que nasceu, cresceu e ainda vive em S.Miguel de Seide, a terra onde Camilo escreveu e se suicidou.

No final do 9º ano, convenceram-na a ir para Ciências, mas não tardou a que Francisca se sentisse um peixe fora de água e convencesse os pais a mudar da Didaxis de S. Cosme para Artes Visuais, em Famalicão, onde se deu o momento decisivo do vestido metálico inspirado no Paco Rabanne – que a levou a fazer o curso de Design de Moda na ESART. (O pai teria preferido que ela fosse para Arquitetura, dava mais jeito na empresa de construção e reabilitação urbana da família …)

“Foi muito bom. Viver sozinha ajuda a crescer. Castelo Branco é uma cidade pacata. Estive sempre muito focada no curso e os três anos passaram muito rápido. A Alexandra Moura foi minha professora e mentora foi projeto de final de curso”, recorda.

Se, como nos ensina Freud, os sonhos noturnos são gerados na busca pela realização de um desejo reprimido, Francisca não precisa de fazer psicanálise pois tem sido capaz de concretizar na vida real os desejos que lhe aparecem nos sonhos.

“Os meus sonhos são tipo filme. Quando acordo lembro-me deles desde o início. E às vezes consigo controlá-los. É muito estranho”, diz Francisca, que se deitou preocupada com a coleção de fim de curso e acordou iluminada. Uma marca, Rua 148 (“Não me pergunte porquê”), e um conceito: vestidos que eram telas a serem pintadas por Luio Onassis (aka Luio Zau), um artista plástico seu amigo. Tudo lhe tinha surgido no sonho.

Os seis coordenados (três estampados com uma obra de Luio e outros três pintados por ele à mão), assinados em conjunto com a sua colega Elisa Boto, fizeram furor. “Foi um sucesso. Os professores incentivaram-nos a concorrer ao Sangue Novo e no dia 29 de junho, em que fiz 22 anos, soube que íamos passar em outubro na Moda Lisboa”, diz Francisca, que ainda em 2014 se apresentou a solo na Alfândega do Porto, no âmbito do Acrobatic Fashion.

Concluído o curso em Castelo Branco, feitas as primeiras apresentações em Lisboa e no Porto, regressou a Famalicão, tirou a carta, começou a mandar curriculuns e foi chamada à Têxtil Nortenha, onde começou a trabalhar com Inês Branco, no gabinete de Design, na primavera de 2015.

Francisca já sabia que “o sonho é uma constante da vida, tão concreta e definida como outra coisa qualquer” (António Gedeão). E algures numa noite do ano passado, durante um sonho desenhou todo o projeto de lançamento de uma nova marca, desde o nome à assinatura, todos os pormenores. “Fluiu tudo!”, revela.

“Numa semana, registei a marca e escrevi tudo. Mas como aos 25 anos, sem dinheiro, lançar uma marca a solo é muito complicado, falei com a Inês, com quem tenho uma relação muito boa – além de minha patroa é minha amiga e dá-me muita força – e acordamos numa parceria 50/50. Fiquei super-contente por ela aceitar”, explica.

A marca chama-se NO.ID, a assinatura é No Name, no Age, No Gender (“é uma marca para todos”), as peças são todas pretas e a venda será só online (com excepção do mês de junho em que a terceira coleção estará disponível na loja pop up da Nortenha que fica na esquina de Cedofeita com a Torrinha, no Porto).

Francisca sabe que “o sonho comanda a vida e que sempre que sonha o mundo dela pula e avança como uma bola colorida entre as mãos de uma criança” (mais uma vez a Pedra Filosofal, de Gedeão). E agora o sonho dela é levar a NO.ID por esse mundo fora.

Cartão Do cidadão

Família Ainda vive com os pais em Famalicão, mas anda à procura de um local para se mudar com o namorado que gere uma discoteca no Porto  Formação Curso de Design de Moda e Têxtil da ESART (Politécnico de Castelo Branco)  Casa Vivenda em S.Miguel de Seide  Carro Fiat 500 (branco com capota preta)  Portátil Asus Telemóvel iPhone 7  Hóbis Viajar, jantar fora com o namorado e os amigos ao fim de semana, fazer fotografia (tem uma Canon) Férias Vai a Copenhague nas férias da Páscoa. O ano passado andou pela Turquia (Istambul, Ancara, Capadócia, etc). Desde há três anos que passa o ano em Berlim Regra de ouro “A humildade é essencial. Ser humilde faz de nós melhores pessoas e diferencia-nos. Com humildade chega-se a qualquer lado”

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