o sonho do citex
“A minha mãe dizia que eu não conseguiria entrar, que a concorrência era muita, e entrei mesmo”, revela
Cristiana Teixeira
T44 - Junho 19
Emergente

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Apostar no futuro
Registou a marca em agosto de 2017, em dezembro saiu da Lanidor e em janeiro de 2018 estava a trabalhar sozinha

Trabalhou na Lanidor durante oito anos mas faltava-lhe qualquer coisa. Comprou uma máquina de corte e costura, começou a fazer coisas em casa, e - com grande surpresa - começou a vende-las. O passo seguinte foi deixar o emprego e voar por conta própria, ao criar a marca Sinopsis

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á a música, claro, as viagens em autocaravana à procura do que o asfalto não consegue oferecer, a saída com os amigos, as gargalhadas, há o tempo que será o da família e dos filhos, há o conforto da casa de sempre que não se perde, há tudo isso, mas não agora. Cristiana, designer porque não pôde ser outra coisa qualquer, ganha uma luz e os olhos dizem coisas antes das palavras: “se soubesse como é difícil, talvez nem tivesse começado”. Mas sabe que isso não é verdade: passou os primeiros anos, filha única, em redor das lãs e das malhas, nos ouvidos o barulho das máquinas de tricotar da mãe, a primeira música, com elas aprendeu a soletrar as cores, a ficar quieta para compreender o mundo e percebeu que era ali que queria crescer.

A viagem do ensino secundário até às portas do Citex (atual Modatex) foi tão natural como crescer e tão amedrontante como de repente ficar sozinha no Porto, a grande cidade onde os perigos não se aprendem senão olhando para eles. “A minha mãe dizia que eu não conseguiria entrar, que a concorrência era muita, e entrei mesmo” – mesmo que nunca chegasse a sair com o curso acabado, por via de um precalço que lhe tirou várias semanas de estudo e lhe colou ao corpo um medo que prefere calar. Mesmo sem o ‘canudo’, fez a sua primeira coleção de cordenados para uma mostra com que, juntamente com os alunos seus colegas, atravancou os corredores estreitos do bar Maus Hábitos e desse hábito não haveria de livrar-se.

Corria o ano de 2009 e, dizem os jornais da época, o Portugal de então corria para um precipício previamente identificado e o empreendedorismo era olhado com uma reserva que antecipava a queda. Cristiana optou por aceitar um emprego que a Lanidor, logo ali perto de casa, lhe oferecia, depois de lhe ter batido à porta com um curriculo. Nos oito anos seguintes “fiz de tudo: descrição de coleções, apoio a sessões fotográficas, até cheguei a ir a Alenquer, onde a Lanidor tem o gabinete de design” – cuja porta nunca lhe foi franqueada, mas isso não é importante: “aprendi muito naqueles oito anos na Lanidor”. Aprendeu principalmente “a lidar com as pessoas”, perdeu a timidez que é sempre um impeditivo sério, aprendeu que “não podemos estar à espera que nos venham bater à porta” e percebeu, num repente, “que me faltava qualquer coisa”.

E depois de aprender isso tudo, percebeu que estava pronta para o sonho – que, entre outras coisas mais prosaicas (mas que costumam constar de folhas de excell e tomam o nome de ‘plano de negócios’), a obrigaria a criar. Era isso que lhe faltava. “Estava a cair na rotina” e isso era o pior de tudo.

Cristiana comprou uma máquina de corte e costura – que haverá sempre de lhe recordar a que usava como brinquedo na casa da avó – e começou a fazer coisas em casa, como se fosse num desespero para fugir dessa rotina. Para seu espanto, começou a vender o que fazia – e isso fê-la chegar à pergunta óbvia: “porque não registo uma marca e passo a fazer aquilo que quero mesmo?”

Quase a fazer 30 anos, era aquela a altura: registou a marca em agosto de 2017 (o mês em que fez 29 anos), em dezembro desse ano saiu da Lanidor e em janeiro do ano seguinte estava sozinha, como está sempre quem quer conquistar o seu próprio mundo. Regressou aos corredores da universidade, a de Aveiro, onde encontrou uma incubadora (o empreendedorismo, dizem os jornais, passou a ser uma moda) e todo o apoio de que precisou para se convencer que estava certa. Mais perto de casa, em Albergaria-a-Velha, o apoio manteve-se: conseguiu um escritório – que serve também de armazém, de atelier, de show room, de despensa e de zona de contacto com os ‘media’ – na incubadora de empresa camarária IERA e é a partir daí que desenha e produz a marca Sinopsis.

O princípio é sempre difícil e as dores de crescimento são uma obrigação por que Cristiana sabe que tem de passar. Mas – principalmente depois de ter encontrado três locais de venda ao público (em Aveiro e Porto) e de ter inaugurado as vendas online – “e é aí que eu quero apostar” – já começou a sentir os efeitos dos primeiros bálsamos. E o que vier adiante terá de ficar para outra crónica, sendo certo que nos olhos de Cristiana há a convicção de que uma sinopse que não envolva uma longa caminhada não vale a pena.

Cartão Do cidadão

Família Solteira, vive com os pais e os avós maternos Formação Frequência do curso do Citex (atural Modatex) Casa Moradia em Valongo do Vouga Carro Renault Clio comercial, branco Portátil notebook Mac Telemóvel iPhone Hóbis Desporto, viagens – muitas vezes na autocaravana do namorado Férias Quase sempre no país mas fora das estradas, à procura das aventuras que se escondem nos caminhos menos percorridos Regra de ouro “Onde estiveres, o que fizeres, que seja a 100%”, quando me proponho a fazer algo é para dar o meu máximo e para fazer isso resultar!

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