Trabalhar desde cedo
O primeiro dinheiro ganhou-o a trabalhar no restaurante do parque de campismo do Furadouro
Ana Silva
T33 Junho 18
Emergente

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O momento decisivo
Aconteceu algures no Natal de 2014, quando Ana decide regressar a Portugal e começar a trabalhar na Tintex

Ana Silva, Diretora do Departamento de Sustentabilidade da Tintex, fala do momento decisivo que ditou o seu regresso a Portugal, em 2014, para abraçar uma nova etapa da sua vida.

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momento decisivo foi algures nas férias de Natal de 2014, em Esposende. Estava ela com o marido (Ricardo) em casa do sogro, Mário Jorge Silva, que lhes falava apaixonadamente sobre o projeto de coating em curso na Tintex e as necessidades em quadros especializados que ele implicava, quando lhe veio à cabeça uma pergunta  –  “E se viéssemos nós?”  – que se revelou a resposta à preocupação do empresário.

”Não foi uma coisa pensada. Aconteceu. Na hora certa e no sítio certo”, explica Ana Silva, que à data vivia há dois anos em Hannover com Ricardo. Ela trabalhava no laboratório da universidade, investigando o uso do magnésio como implante ósseo. Ele na Continental. E como estavam a ficar um bocado fartos de viver na Alemanha, já tinham começar a procurar emprego noutro lado. Chegaram mesmo a analisar hipóteses de trabalho no Brasil e na Malásia.

A mudança de Hannover para Cerveira (a Tintex é a têxtil mais a norte de Portugal) foi apenas mais uma etapa nos 30 anos de vida de Ana, em que Oliveira de Azeméis foi a casa da partida de um percurso com escalas no Porto, Lisboa, Guimarães e Hannover.

Antes de ser a Ana Silva, 30 anos, responsável pelo Departamento de Sustentabilidade da Tintex, ela começou por ser “a filha do João do café” –  15 depois dela nascer, o pai abriu o café Santiago, um negócio que mantêm, acrescentado da distribuição de botijas de gás.

“Vivíamos em cima do café. Sempre que era preciso, eu dava lá uma ajuda”, recorda Ana, que nos tempos de estudante era conhecida por Ana Tavares, embora já tivesse Silva no nome (Ana Sofia da Silva Tavares).

Nas férias, no final do Secundário, concluído na ES Soares Basto (Oliveira de Azeméis), esteve três semanas a trabalhar num gabinete de terapia da fala, uma breve paixão que lhe podia ter mudado a vida. “Para mim, que sempre falei imenso, era um mistério ver miúdos que não queriam falar”, conta, explicando porque é que na candidatura ao Superior pôs Terapia da Fala em primeiro lugar (onde não entrou porque não tinha as disciplinas do 12º necessárias), antes da Engenharia Química.

A escolha de Engenharia Química foi por exclusão de partes. Línguas e humanidades não lhe interessassem. Ela gostava era de Matemática e de Química. E dentro das engenharias, riscou logo as hipóteses de Civil ou Informática.

“Foi uma boa escolha”, reconhece Ana, que apanhou o primeiro ano de Bolonha, especializando-se em Energia e Ambiente – e fez no Técnico a tese de mestrado, sobre a extração de zinco num efluente da indústria de galvanização.

O primeiro dinheiro ganhou-o, ainda adolescente, durante as férias de verão, a trabalhar no restaurante do parque de campismo do Furadouro, onde os pais tinham uma roulote. E no 2º ano da FEUP, passou um mês na linha de produção de cereais da fábrica de Avanca da Nestlé, reunindo os euros necessários para financiar um Interail que a levou a Milão, Florença, Roma, Veneza, Bucareste, Sofia, Budapeste, Munique e Berlim.

Mas o primeiro emprego a sério foi em Guimarães, num spin off da UMinho que dava consultoria para projectos do QREN. Não aqueceu o lugar. “Não gostei da experiência. Era tudo muito teórico e muito parado”, conta. O próximo destino foi Hannover, para onde Ricardo (o ex-colega de curso com quem começara a namorar no último ano da faculdade) ia trabalhar na Continental.

E estavam os dois de nariz no ar à procura de trabalho fora da Alemanha, com a Ana Tavares, a antiga “filha do João do café”, transformada em Ana Silva (casaram a 25 de outubro 2014, meio ano antes de voltarem a Portugal) quando se deu o momento decisivo, um alinhamento de estrelas em que a fome se juntou à vontade de comer –  na hora e no sitio certos.

“Os primeiros tempos na Tintex foram um choque. Eu vinha de um laboratório na Alemanha, onde havia regras para tudo. Ninguém podia ficar sozinho no laboratório depois das 18h. E quando precisava da balança para preparar um reagente tinha de pedir à responsável a chave do local onde estava guardado o prato e assinar um papel. Aqui as coisas são muito diferentes. Passei do oito para o 80”, recorda.

Ana gosta de regras –  sabe que elas são necessárias precisas. E reconhece que não foi fácil a tarefa de implementar um sistema de qualidade e ambiente, em que se regista e documenta tudo quanto se faz, numa indústria tão rápida como a têxtil, em que é tudo para ontem. Mas está a gostar.

“É tudo muito diferente. Não há um dia igual ao outro. É um trabalho desafiante, em que tudo fica mais fácil se aceitarmos que as coisas estão em constante mudança, em que se não queremos andar a correr sempre atrás das novas tendências temos de ser capazes de as antecipar”, conclui.

Cartão Do cidadão

Família Casada com Ricardo – têm duas gatas, a Olivia e a Mafalda  Formação Licenciatura com mestrado integrado em Engenharia Química (FEUP) Casa Moradia geminada na Abelheira, Viana do Castelo Carro BMW X1 (que partilha com o marido)  Portátil Surface Telemóvel iPhone 6S  Hóbis Ler, ouvir música, sair com os amigos Férias Em 2017 foram aos Açores. Para este ano ainda não têm nada planeado  Regra de ouro  Aceitar que a nossa vida está em constante mudança e que não há verdades absolutas

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