Ana Pinho
"Lido mal com o fracasso e o não cumprimento dos objectivos. Mas sou perseverante."
Ana Pinho
T17 Fevereiro 2017
Emergente

Jorge Fiel

Ana Pinho
"Comecei, aos poucos, a entrar no mundo dos trapos e gostei."

Ana Pinho tem apenas 30 anos mas já fez muita coisa. Desde servir à mesa, até a um curso de Criminologia, passou ainda pelo ensino onde deu aulas de Vitimologia e Comportamente Desviante, pela tentativa de ressuscitar a marca Jotex e pela abertura de dois cabeleireiros. Lida mal com o fracasso mas é perseverante e não tem medo de iniciar novos desafios.

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inda não tem 30 anos e já serviu à mesa em esplanadas de Espinho, fez um curso de Criminologia, deu aulas de Vitimologia e Comportamento Desviante, tentou (sem sucesso) ressuscitar a marca de malhas Jotex, e abriu (com sucesso) dois salões de cabeleireiro, no Porto. Deste breve resumo é legítimo concluir que Ana Regina Tavares Pinho, 29 anos, é uma mulher que gosta de aprender, não vira a cara a desafios e tem pressa de viver.
Ana nasceu em Espinho, no ano em que o FC Porto ganhou a sua primeira Champions, neta de Joaquim Tavares, o industrial que em 1961 fundara a J.Tavares & irmãos, que fabricava as malhas Jotex, marca resultante da contração das iniciais de Joaquim (Jo) com as de têxtil (tex).
“Cresci no meio de caixotes, fios, malhas e desperdício. Tenho imensas recordações da fábrica, que ficava quase colada à nossa casa e trabalhava 24 horas por dia. Nos primeiros tempos depois dela ter fechado, lembro-me de à noite sentir a falta de barulho de fundo das máquinas”, conta Ana, com nostalgia na voz.
Após ter deixado de ser analfabeta na Escola de Nossa Senhora da Conceição, atravessou a adolescência torturada pela dúvida sobre que caminho seguir quando terminasse o secundário, feito na Gomes de Almeida.
O pai e o avô pressionavam-na para ela se preparar para, no futuro, assumir liderança da fábrica, mas, num acto de rebeldia adolescente, Ana decidiu cortar com os trapos e matriculou-se no curso de Criminologia da Faculdade de Direito do Porto.
“A minha ideia era fazer Psicologia Clínica. Mas, acima de tudo, queria investir em algo completamente diferentes dos têxteis”, explica Ana, que enquanto estudava Criminologia assistia, à distância, à derrocada da fábrica do avô.
Já fez o luto do doloroso e prolongado processo de falência da Jotex, que era a menina dos olhos do seu avô Joaquim, com quem janta todas as quintas-feiras.
“O meu avô gostava mais daquilo do que devia. E após um percurso marcado pela excelência, não conseguiu adaptar-se às novas condições do mercado, que exigiam que ele cortasse custos e reduzisse pessoal, deixasse de estar completamente dependurado na marca própria e no mercado interno – e apostasse em fazer private label e na exportação”, afirma a neta do fundador da Jotex, lamentando ainda o facto de o ambiente em Portugal ser demasiado punitivo para um empreendedor que falha.
No final do curso, após um estágio na APAV, foi professora na Lusíada, mas detestou a experiência (“Não tenho jeito nenhum para dar aulas”) e resolveu fazer marcha atrás na resolução de não fazer vida na têxtil. Voltou a Espinho e começou por dar uma mão à mãe na Essência Atlântica, a empresa comercial que tinha ficado com a marca Jotex.
“Comecei, aos poucos, a entrar no mundo dos trapos e gostei. Tive de dar a mão à palmatória”, confessa Ana, que deu livre curso à sua costela empreendedora, abrindo dois salões de cabeleireiro, um na Damião de Góis (que no entretanto trespassou) e outro na zona do Bessa.
Mas se o negócio dos salões de cabeleireiro seguia de vento em popa, o mesmo não se podia dizer da tentativa de manter a Jotex viva. Cansada de um exercício demasiado solitário de gestão e com um diagnóstico bastante negro sobre o futuro, optou por um estratégia de controlo dos danos: fechou a Essência Atlântica e partiu para outra aventura.
“Não podia continuar só no mercado interno e amarrada à imagem demasiado clássica da marca. E não tinha fundo de maneio para dar a volta à situação”, esclarece. Mas manteve-se nos trapos. Nos últimos sete meses tem andado numa roda viva, a desempenhar o papel de parteira na criação da CLO, uma nova marca de vestuário para senhora, para o segmento médio e médio/alto, ready to wear e look complete, trabalho para que foi contratada por duas empresas industriais portuguesas.
“Lido mal com o fracasso e o não cumprimento dos objectivos. Mas sou perseverante, não tenho medo de iniciar novos projectos e gosto de aprender”, conclui esta jovem mulher que tem pressa de viver e está aí para as curvas, pronta para aceitar novos desafios.

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