De miúda dos trapos
A CEO de uma têxtil com história
Carolina Guimarães
T83 - Maio 23
Emergente

T

Agarrou com ‘unhas e dentes’
Uma têxtil com história quando tinha apenas 23 anos

Fugindo do plano inicial, Carolina Guimarães agarrou de forma destemida o desafio de ser a CEO de uma têxtil com história com apenas 23 anos.

A
A

pesar da licenciatura em Ciências da Comunicação, o plano inicial nunca foi esse. Carolina Guimarães, atual CEO da JPG desde 2019, agarrou com ‘unhas e dentes’ uma têxtil com história quando tinha apenas 23 anos. 

Criada em 1956 na garagem de casa do avô, a empresa apenas nos anos 60 se mudou para a localização atual em Leça do Balio. De todos os segmentos a que já responderam, a tricotagem e a empresa de acabamentos ainda existem – esta última da responsabilidade do pai, que se iniciou no ramo em 1973. A Carolina nasceu 22 anos depois e contactou com essa realidade desde cedo: “Eu nasci nas fábricas. Do 1º ao 4º ano passava as tardes livres na fábrica e esses momentos ficaram em mim. Para mim, é poético ver um fio a entrar e ser transformado noutra coisa”, contou.

Apesar disso, queria ser engenheira informática por influência do pai e do irmão mais velho. Mas, no 7º ano apaixonou-se pela leitura e dois anos depois pela escrita: criou o blog “Entre Parêntesis” (que ainda existe). Aí, os caminhos ficaram confusos! Acabou por ir para Ciências da Comunicação, “porque achei que era a forma de seguir com a minha paixão: a escrita”, ainda que tivesse sempre em vista a têxtil. 

No primeiro ano do curso percebeu que odiava Jornalismo e seguiu o ramo da Assessoria, tendo acabado por estagiar na Associação Selectiva Moda. Findo esse processo, foi desafiada a tornar o T Jornal digital e, “de forma algo calculista, aceitei o desafio, pois permitia-me continuar a criar contactos com a têxtil e compreender o que é trabalhar por conta de outrem antes de ser patroa. Permitiu-me levar a empatia a outro nível”, salientou Carolina.  

Dois anos se passaram e a fábrica começou a ser, ainda mais, o seu caminho. Em agosto de 2018 deixou o T e, em setembro, iniciou a pós-graduação em Gestão de Empresas, mês em que o avô faleceu. Nesse ano, coordenou os estudos com a presença na empresa, pois pretendia uma transição natural: “não queria que fosse vista como um apoderamento de poder, mas que entendessem que tinha gosto no que fazia”. 

Em setembro de 2019 entrou a tempo inteiro na JPG. Uma mulher de 23 anos a liderar uma empresa com trabalhadores mais velhos e habituados a outros costumes: vi os problemas principais e tentei entender como mudar as coisas”. Começou por melhorar os espaços comuns, “segui o instinto e pensei no que gostaria de ter se ali trabalhasse”, explicou. 

“O meu avô queria que a empresa morresse com ele e a minha avó pediu que continuasse com ela” e do orgulho do avô ficou o atraso da empresa face a outras que nasceram depois, mas também o desafio para Carolina continuar um projeto com história. 

Arranjar pessoas para trabalhar na têxtil continua a ser um dos maiores desafios e é, por isso, que “quero que as escolas venham visitar a JPG. Não podemos ambicionar que alguém sonhe trabalhar na indústria, se não a colocamos no imaginário dos mais novos para que o vejam”. 

Tendo crescido na geração do imediatismo e dos ‘salta-pocinhas’, a CEO salienta que o seu trabalho exige paciência: os resultados são muito lentos, é preciso resiliência: “É um projeto a longo prazo. É um desafio diário, pessoal e de negócios, mas – sobretudo – um desafio de mentalidades de dentro e de fora, onde pretendo que exista sempre clareza e transparência e que o gap entre patrão e funcionário vá diminuindo”. 

Com a JPG como projeto de vida que a permite fazer algo pela comunidade e lhe dá alento para continuar, “ainda que me ocupe a alma e a mente e possa ser uma responsabilidade que me pesa”, Carolina pretende – no futuro – criar uma marca própria com o marido. E a escrita? Podemos contar que pelo menos um livro poderá um dia estar na nossa estante.

Cartão Do cidadão

Família O marido, os pais, os três irmãos e respetivos cunhados, os seis sobrinhos e os seis  cães Casa Apartamento na Maia Carro DS4 Híbrido Formação Licenciatura em Ciências da Comunicação e Pós-Graduação em Gestão de Empresas Portátil Lenovo Telemóvel Xiaomi Mi 10T Hobbies Passear com o marido, estar com os cães, escrever e tocar piano Férias As últimas foram um cruzeiro no Mediterrâneo e Ilhas Gregas Regra de ouro “O que tem que ser tem muita força”

Partilhar