Para um dia especial
Aquilo que mais gosta de fazer são vestidos de noiva, onde pode acrescentar a criatividade em doses generosas
Rita Noro
T50 - Janeiro/Fevereiro 20
Emergente

António Freitas de Sousa

A moda como arte
Rita Noro descobriu uma fórmula que quis testar: o têxtil como instrumento de criação escultórica

Quando essa espécie de nomadismo que praticou como uma certeza existencial deixou de ser uma opção – tinha acabado de ser mãe da sua primeira filha – Rita Noro voltou ao Porto para se deixar em sossego. Para trás ficavam mil viagens, uma vida universitária em Barcelona, uma paixão pela Índia – a que está sempre a regressar – e “um cérebro que borbulha de criatividade”

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odia ter-se deixado ficar pelo conforto da segurança da cidade, a proximidade financeira do pai das suas duas filhas e o tempo repartido entre a equitação, a dança e o ballet das crianças, mas essa coisa de não fazer nada não parece caber no léxico das suas opções e, como se fosse pouco mais que por acaso, o design de peças de moda fez de repente todo o sentido.

O que não fazia sentido, nunca fez, foi fazer coisas iguais às que já se encontram por aí ou reproduzir fórmulas vulgares, por muito que já se tenham revelado sensatas. Rita Noro, que verdadeiramente nunca teve uma paixão assolapada pelo design de moda, descobriu de repente uma fórmula que quis de imediato testar: o têxtil como instrumento de criação escultórica. As suas criações – que têm por base pedaços de tecido das mais diversas proveniências (entre reposteiros, cortinados, toalhas de mesa e roupa indeterminada), feitios, cores, texturas, toques e levezas – têm todas as caraterísticas necessárias e suficientes para se confundirem com a arte maior da escultura.

É essa, aliás a sua imagem de marca, aquela que é a distinção das suas criações: “é uma criação teatral, fantasiosa, e por isso também exclusiva: não há duas peças que sejam iguais”, diz Rita Noro para as descrever, à medida que as vai desencantando de diversos sítios para as abrir em cima da mesa da sala, que se confunde, displicente, com um depósito de memórias de viagem.

Rita Noro concluiu o 12º ano em Joalheria na Escola Soares dos Reis, mas depois rumou para a Academia Comtemporânea do Espetáculo, onde acabou por apaixonar-se por coreografia (disciplina que incluia o vestuário) e que foi um trampolim para o Institut del Teatra, escola semi-pública sita em Barcelona, o que a obrigou a aprender catalão e a desperdiçar (do ponto de vista curricular e não outro) um ano, o de 2003, por causa da falta de equivalências.

Uma viagem à Índia (em 2010) acabaria por resultar num turbilhão de caminhos novos: conheceu aquele que seria o pai das suas filhas – que vendia produtos gourmet na Tailândia – e descobriu um lugar a que volta constantemente, tem de voltar, como se fosse ali que estivessem as baterias que colocam a sua criatividade, carregando-a, no ponto de ebulição necessário.

Rita Noro está por estes dias a fazer as malas para regressar a Goa, de onde virá em abril, onde tem uma das suas frentes de negócio: a Iboga, marca do francês Lorean Pelissier, que as espalha por aí a partir da Índia, mas onde também vende as roupa que leva a sua marca (Rita Noro). Não por certo às indianas: “vendo para a comunidade internacional que vive em Goa”, uns sempre outros quase sempre – numa amálgama que faz lembrar as comunidades hippies e que, para todos os efeitos, não é composta por gente vulgar, a quem se possam vender coisas vulgares. “Acredito na anarquia”, diz Rita Noro, como sendo o esteio de uma liberdade que não tem de ter freio.

Das suas criações, diz, aquilo que mais gosta de fazer são vestidos de noiva (e também de noivo, como já lhe sucedeu) onde pode acrescentar a criatividade em doses generosas, mas esse gosto não é mais forte que o apelo do nomadismo: as filhas já cresceram o suficiente para a acompanharem e por isso Rita Noro não tem a certeza que não esteja de partida. Também não tem a certeza de saber onde é a chegada dessa nova partida – o que, em termos da criação de roupa não tem importância maior: a sua principal plataforma de venda é online, sendo despiciendo se o design é produzido no Porto, em Goa, em Barcelona ou noutro canto qualquer – sendo que o que é importante para Rita Noro é estar rodeada dos instrumentos que lhe permitem continuar a produzir tecidos que são escultura.

Cartão Do cidadão

Família Vive com as duas filhas, Mila (sete anos) e Lana (quatro anos) Formação Licenciatura no Institut del Teatra, Barcelona Casa T3 no centro do Porto, que está prestes a comprar Carro Opel Agila Portátil Apple Telemóvel Xiaomi Hobbies Fotografia, filmes e livros (“ando a ler O caminho imperfeito, de José Luís Peixoto”) Férias Um sonho permanente, que em Cuba encontrou um lugar fantástico Regra de ouro Fluir na vida como a água: sem expetativas, seguindo unicamente as regras que fazem sentido

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